Diário do Minho deixa de ter um padre como director

O jornal mais lido do distrito de Braga e um dos diário regionais com maior número de leitores em Portugal vai ter um novo director a partir de amanhã. Isso não seria notícia se o Diário do Minho (DM) não fosse propriedade da Igreja Católica e passasse a ser dirigido por um leigo, pela primeira vez em 80 anos. "Não há muitos padres e a Igreja tem cada vez mais dificuldades para responder às necessidades. Por isso, este será cada vez mais o mundo dos leigos", explica José Miguel Pereira, o sacerdote que abandona o cargo de director do DM, após cinco anos.

José Miguel Pereira é o último de 13 directores que o jornal teve desde a sua fundação, em 1919. E se, nos primeiros anos, eram os leigos que o dirigiam, a partir de 1931 apenas religiosos foram directores do jornal. A empresa que o gere pertence ao Seminário Conciliar de Braga, que detém 75 por cento da empresa, e à Diocese de Braga, proprietário dos restantes 25 por cento.

Mas apesar das mudança, a orientação do DM não vai mudar, garante o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga. "Importa continuar a apostar num jornal com rosto e identidade cristã e marcada vertente eclesial católica", sublinha o prelado. Mas lembra que o mundo da Comunicação Social "é complexo" e nem sempre é fácil "abraçá-lo dentro dos limites decorrentes da doutrina da Igreja".

José Miguel Pereira conheceu essas dificuldades. "Passei pelas brasas, aprendi a lidar com pressões e a bater o pé", ilustra, mas sublinha que ganhou "todos os processos em tribunal" ao longo deste tempo. Deixa o DM para asumir duas paróquias de Esposende, mas vai "mais rico" depois desta experiência. "Os padres, às vezes, vêem a comunicação social como um demónio e lidam mal com os jornais. É uma ideia errada e não fazia mal nenhum que todos passassem por este mundo para o perceberem", afirma.

O jornal lidera a imprensa regional no distrito de Braga, com 10,8 por cento de audiência, o que corresponde a quase 73 mil leitores diários. Para manter a posição, a Igreja conta com Luís Silva Pereira, professor na Universidade Católica, que abandona a docência de Literatura Portuguesa e História da Arte para se dedicar ao jornal regional.

Para o novo director, o facto de um leigo assumir a direcção de um jornal que é propriedade da Igreja Católica é um "sinal de total confiança". "Um leigo pode fazer este trabalho perfeitamente, mantendo um respeito pelo ideário do jornal", assegura, lembrando que esta responsabilização dos leigos é uma orientação que tem vindo a ser seguida pela Igreja nos últimos anos.

Silva Pereira não quer mudar muito o diário bracarense. "O jornal tem jornalistas de muita qualidade e fazem um trabalho excelente e é a eles que se deve dar importância", afiança, ainda que queira ver a redacção dar mais importância à cultura. O novo director do DM pretende também "acentuar o carácter regional" daquele título.

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