Santa Casa pagou 32 milhões por edifícios que se mantêm vazios 2 anos e meio depois

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O complexo de edifícios da Av. José Malhoa espera pela Misericórdia desde Março de 2008 Miriam Lago

Compra era urgente por razões de segurança. Concurso para obras de remodelação só em 2011. Trabalhos custarão mais 7, 7 milhões. Vendedores ainda têm os prédios à venda no site

O edifício da Rua das Taipas onde funciona o Departamento de Jogos da Misericórdia de Lisboa tem graves problemas estruturais que determinaram a necessidade da transferência urgente daqueles serviços. A compra das novas instalações, na Av. José Malhoa, foi negociada em 2007 e concretizada em Março de 2008. Até hoje, porém, nada aconteceu na R. das Taipas, nem na José Malhoa. E a mudança só acontecerá, na melhor das hipóteses, no fim do próximo ano.

Na Rua das Taipas, onde os serviços do Totobola e da Lotaria Nacional foram instalados há dezenas de anos, as fissuras nas paredes e os sinais de assentamento das fundações surgiram em meados de 2007. Nessa altura estavam em curso as obras de reforço do túnel do Rossio, que passa a pouco metros do edifício da Misericórdia. Os trabalhos tinham sido retomadas pela empresa Tecnasol em Janeiro, meses depois de o então ministro Mário Lino ter afastado a Teixeira Duarte da empreitada, por alegado incumprimento contratual.

Constatada a ausência de condições de estabilidade do edifício e verificada, através de uma auditoria da British Standards Institution, a sua desadequação às normas internacionais de segurança da informação relativa aos jogos - aplicáveis às entidades que exploram jogos sociais, designadamente o Euromilhões -, a Misericórida decidiu avançar para a instalação do Departamento de Jogos noutro local.

A solução foi encontrada ainda em 2007, tendo a escritura de compra de um bloco de três edifícios, situados na Av. José Malhoa (3 a 9), à sociedade Imoholding, controlada pelo empresário Aprígio Santos (presidente do clube Naval 1.º de Maio, da Figueira da Foz), sido celebrada em Março de 2008. O complexo, que em tempos alojou a seguradora Bonança, dispõe de uma área de 11.800 m2 e de 132 lugares de estacionamento subterrâneo e custou 32 milhões de euros.

De então para cá, as deficientes condições de segurança no prédio das Taipas - que obrigaram à colocação de extensores metálicos para suporte de vigas de betão no seu interior - não sofreram qualquer evolução positiva, mas a mudança para a José Malhoa está longe de se concretizar. No local, aliás, ainda se vê, numa das montras, um enorme cartaz com o logótipo da Imoholding. Esta empresa, que já nada tem a ver com os edifícios, ainda os mantém na primeira página do seu site, como se fossem seus e estivessem para venda. Segundo um dos seus responsáveis, contactado pelo PÚBLICO, trata-se de "um lapso".

De acordo com o assessor de imprensa da Misericórdia, José Pedro Pinto, tem estado em curso, nestes dois anos e meio, a elaboração dos projectos de alteração dos edifícios, por forma a que estes possam acolher o Departamento de Jogos, parte dos Serviços Centrais da Misericórdia e mais de 500 trabalhadores. Paralelamente têm sido efectuados testes e ensaios, prevendo-se o lançamento de um concurso público internacional para a realização das obras em Janeiro de 2011. Os trabalhos, estimados em 7,7 milhões de euros, deverão estar prontos no final desse ano.

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