Contaminação das praias da costa de Leiria está a afastar os turistas

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O problema ataca nas praias, há turistas a fugir para outros lugares e quem sofre é a economia local miguel madeira

Água castanha. Espuma e microalgas e um odor insuportável levam visitantes a mudar de sítio. Há hotéis que já perderam reservas e concessionários de praias a perder negócio

A espuma acastanhada, o mau odor e a elevada concentração de microalgas que têm atingido as praias, entre São Pedro de Moel, no concelho da Marinha Grande, e a zona da Leirosa, no concelho da Figueira da Foz, nas últimas semanas, está a afastar os turistas e a ter reflexos negativos nos negócios. A situação é conhecida há semanas, já foi noticiada pelo PÚBLICO, mas até agora ainda não foi resolvida.

Apesar de a espuma já não ser tão visível na zona da praia de São Pedro de Moel, o vereador do Ambiente, Paulo Vicente, confirma que as pessoas se têm queixado bastante, por nunca ter sucedido uma situação semelhante em anos anteriores. O autarca acredita que os concessionários da praia têm sido os mais afectados. "Temos tido a preocupação de minimizar os efeitos, limpando de imediato a areia. Todos os dias passo de manhã pelas praias", garante Paulo Vicente.

O presidente do conselho de administração do Grupo Promoel, empresa que explora as piscinas, confirma que todos os dias anda um tractor, logo de manhã, a retirar os resíduos. Luís Vasco Pedroso teme, acima de tudo, as consequências a médio prazo. "As pessoas andam alarmadas, porque a água tem mau aspecto e cheira mal. E, por coincidência, o mar tem estado mau. As perguntas são constantes. As pessoas andam mesmo chateadas." O sector hoteleiro também sofre com o problema, pois houve turistas que desmarcaram as reservas. Há ainda quem receie que este afastamento dos turistas se perpetue no futuro.

O presidente do núcleo de Ourém da Quercus, Domingos Patacho, suspeita que os culpados desta contaminação sejam as duas fábricas da Leirosa, que produzem papel e pasta de eucalipto, sendo servidas por um emissário comum. Anteontem, o ambientalista sobrevoou o local e constatou que "existem manchas com espuma suspeitas a cerca de um quilómetro da costa da Leirosa, próximo do emissário". Porém, contactou as duas empresas, uns dias antes, e ambas garantiram estar a cumprir os parâmetros estabelecidos por lei e que não existe qualquer problema no tratamento.

Mesmo assim, Domingos Patacho pediu à Inspecção-Geral do Ambiente que fiscalize se existe alguma irregularidade. E, mesmo que não haja, o ambientalista defende que os parâmetros devem ser mais "apertados".

Patacho percorreu recentemente a costa entre a Marinha Grande e a Figueira da Foz e confirmou que a contaminação é mesmo provocada por microalgas. Porém, acredita que uma concentração tão elevada se prende com a existência de matéria orgânica no mar, que provoca a reprodução das bactérias e algas. Estas, quando morrem, entram em putrefacção e dão origem a espuma. O presidente da Oikos, Nuno Carvalho, também se deslocou a várias praias afectadas pela contaminação. Não detectou resíduos industriais, mas admite que possa ter existido um problema em algum equipamento de uma das fábricas da Leirosa, que tenha conduzido a uma descarga acima do permitido.

Preocupado com a situação, o presidente da Câmara da Marinha Grande obteve recentemente a garantia da Administração Regional Hidrográfica do Centro que, assim que houver suspeitas de uma descarga, serão recolhidas amostras de imediato para análise. "Quero que analisem também os sedimentos no areal", explica Álvaro Pereira.

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