Questionada a versão sul-coreana de acidente naval

Há quem, na Coreia do Sul, não acredite na versão que o Presidente Lee Myung-bak deu do desastre em que morreram em Março 46 marinheiros da corveta Cheonan.

No dia em que arrancaram no mar do Japão manobras navais conjuntas de norte-americanos e sul-coreanos, o Los Angeles Times publicou um artigo em que refere os desafios ao relato oficial dos acontecimentos. Armados com dossiers dos seus próprios estudos científicos e alimentados pelas teorias da conspiração, os críticos contestam as conclusões anunciadas dia 20 de Maio pelo Presidente, que apontou o dedo a Pyongyang.

Também perguntam por que fez Lee o anúncio quase dois meses depois de o navio se ter afundado, no preciso dia da abertura da campanha para umas eleições locais muito renhidas. Há quem acuse aquele dirigente conservador de usar as mortes dos marinheiros para atear o sentimento anticomunista e encaminhar o sentido do voto, adianta o diário.

Os críticos, na sua maior parte mas nem todos eles da oposição, afirmam ser improvável que o regime empobrecido da Coreia do Norte pudesse ter desencadeado uma operação perfeitamente sucedida contra uma potência militar superior, metendo um submarino na área e fazendo-o depois retroceder sem ser detectado. Também perguntam se as provas do ataque de um torpedo foram mal interpretadas ou até mesmo fabricadas.

"Não consegui encontrar o mais pálido vestígio de uma explosão", disse Shin Sang-chul, antigo gestor de construção naval transformado em jornalista de investigação. "Os marinheiros afogaram-se. Os corpos estavam limpos. Nem sequer encontrámos peixes mortos no mar ali em redor", cita o LA Times.

Shin, que foi nomeado para o painel conjunto de investigação pelo Partido Democrático, na oposição, inspeccionou o navio juntamente com outros peritos, no dia 30 de Abril. E foi afastado do painel pouco depois por, segundo diz, ter manifestado uma opinião contrária: a de que a Cheonan batera no fundo das águas ao largo da península coreana e danificara o casco ao tentar desenvencilhar-se de um recife.

As dúvidas sobre a Cheonan embaraçaram os Estados Unidos, que começaram as manobras conjuntas com a Coreia do Sul, sob o nome de código Espírito Invencível, numa demonstração de unidade contra a Coreia do Norte.

Dois académicos norte-americanos de origem sul-coreana juntaram-se ao coro de cepticismo, ao comunicarem as suas suspeitas quanto à autenticidade de um pedaço de propulsor de torpedo que tinha escrito à mão, em tinta azul, a expressão em coreano "Número 1".

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