The Yeatman Hotel está quase pronto, mas não agrada a todos

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O projecto tem sido muito criticado no blogue ADRIANO MIRANDA

Unidade hoteleira foi considerada "Projecto de Interesse Nacional". Empresa diz que áreas verdes diminuirão impacte da construção

É o primeiro hotel de cinco estrelas de Gaia. O The Yeatman, do grupo Fladgate Partnership, tem inauguração aprazada para Julho, representa um investimento de 32,5 milhões de euros e foi considerado um projecto de interesse nacional e municipal. Criará uma centena de postos de trabalho e promete um conceito inovador, intimamente relacionado com o vinho (o grupo Fladgate Partnership detém as marcas Taylor"s, Croft e Fonseca). Mas, à medida que a construção foi crescendo entre os telhados das caves do vinho do Porto, na margem esquerda do Douro, foi também aumentando a polémica em seu redor. "É uma coisa horrenda, que não fica bem em lado nenhum", disse ao PÚBLICO o arquitecto Alexandre Burmester.

Nuno Portas, ex-vereador da Câmara de Gaia e responsável pelo primeiro Plano Director Municipal de Gaia, também considera que se trata de "um projecto muito discutível". "Vejo-o todos os dias da minha janela e ainda não me aproximei dele o suficiente para ter uma opinião definitiva, mas é algo que me perturba. Parece que não tem a escala certa", declarou ao PÚBLICO. "Não é tão agressivo como costumam ser os hotéis, dadas as dimensões que tem, mas está a acabar de uma forma muito esquisita", considera o arquitecto da chamada "Escola do Porto", para quem este tipo de intervenção é sempre muito complicado numa zona histórica. "Toda a gente diz que é preciso reabilitar, mas, quando aparece alguma coisa, toda a gente lhe cai em cima", conclui Portas.

A unidade hoteleira - "que pretende definir uma cidade", conforme é apresentada num comunicado da empresa - tem também suscitado várias críticas públicas e, ao que o PÚBLICO apurou, está longe de ser consensual mesmo entre os responsáveis da Câmara de Gaia, que o aprovou, considerando-o um projecto estratégico para o desenvolvimento económico da zona das caves do vinho do porto. No blogue A Baixa do Porto, Alexandre Burmester reconhece que o The Yeatman "consegue marcar a silhueta urbana de Gaia", mas acrescenta, extremamente crítico: "Não sei quem o desenhou nem quem o concebeu e realizou, [mas] sei, como todos sabemos, quem o aprovou. Todos deviam ter vergonha pelo péssimo serviço que estão a prestar às cidades de Gaia e do Porto", escreveu o arquitecto, descrevendo o hotel como um "mamarracho de características de submundo turístico".

No mesmo blogue, o também arquitecto Pedro Figueiredo acrescentou a sua voz ao coro de críticas. O novo hotel, considera, é "um exemplo de vários problemas urbanísticos e mentais que sub-repticiamente tendem a considerar-se pela opinião pública mal ou não informada de todo como situações "normais" e aceites". "É uma arquitectura de pastiche, aparentemente sem uma linguagem assumida, nem contemporânea, nem antiga de todo", considera, acrescentando: "Se eu pudesse, enquanto técnico ao serviço do município, deveria ter reprovado este projecto, porque, apesar de ele cumprir todos os regulamentos camarários e legais em vigor, ele não cumpre o que deveria cumprir: ser um bom projecto de arquitectura".

Contactado pelo PÚBLICO, Adrian Bridge, presidente do The Yeatman, comentou, via e-mail, que "vivemos em democracia", pelo que "todas as pessoas são livres de exprimir a sua opinião". "O The Yeatman Hotel encontra-se neste momento em fase final de construção e, devido a este facto, ainda não possui os jardins e espaços verdes terminados. Esta situação influencia directamente a área de construção, fazendo-a parecer maior do que é na realidade", explicou.

Confrontado com as críticas ao estilo arquitectónico adoptado, Adrian Bridge salienta que o projecto respeita o enquadramento e dá grande ênfase à protecção do meio ambiente, incluindo elementos "vanguardistas". "Respeitamos os comentários e teremos todo o prazer em mostrar o projecto assim que estiver terminado, e após a abertura do hotel, no final de Julho", concluiu.

Projectado por Vítor Miranda, um colaborador do grupo Fladgate, o The Yeatman foi construído ao abrigo do regime de excepção criado pelo facto de o Governo o ter considerado Projecto de Interesse Nacional (PIN). Para tal, o Governo decretou, em Setembro de 2007, a suspensão temporária do Plano Director Municipal de Gaia. Ainda assim, o projecto chegou a suscitar dúvidas por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico. O interesse económico e estratégico do projecto acabou, contudo, por se impor e a cerimónia de lançamento da primeira pedra contou com a presença e a bênção do então ministro da Economia, Manuel Pinho.

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