Melgas e mosquitos

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Já estive duas vezes em Moçambique e em Angola e três vezes no Brasil e nunca ouvi falar em melgas. Só em Portugal se fala em melgas. Segundo pude perceber, as melgas são mosquitos do sexo feminino.

Mesmo assim, em Portugal, temos produtos que são antimosquitos e antimelgas e outros, mais caros, que são (ou também) antimoscas.

A melga é uma palavra e característica portuguesas. É não só a pessoa chata, que se cola a nós próprios, muito antes do aparecimento da "baba - outra estranha palavra, parecida com a indiana e inglesa "ama" e a brasileira "babá". É uma stalker que nos persegue; pica e dói. No Brasil, melga diz-se muriçoca. Neste "mu" reconhece-se o parentesco com "mosquito". Talvez.

A melga revela a misoginia portuguesa. O mosquito, no masculino, é um gajo porreiro. A malária - o mau ar - nada tem a ver com ele. No resto do mundo, o mosquito (macho e fêmea) é o inimigo. Mas em Portugal não: só a mosquita feminina, que nem mosquinha é.

Vem nas latas e nos "difusores" da Exalo, Raid, Dum-Dum e o raio que o parta. Em todo o mundo, com razão, o mosquito, macho ou fêmea, é temido e contrariado, com redes e sei lá o quê. Mas só em Portugal é que se especificam as "melgas", que são os mosquitos femininos.

É como anunciar que são as namoradas, esposas e mulheres que fazem mal. Mosquito é masculino. É digno e inofensivo. Já a melga é má. É como os peros e as maçãs. A confusão é a mesma. O mal é o mesmo. Peros e melgas, só em Portugal.

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