Dois jovens acusam a PSP de agressões no Bairro Alto mas a polícia nega

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Vasco deu entrada no Hospital de S.José com feridas diversas e foi operado ao maxilar Enric Vives-Rubio

Versões contraditórias sobre o que se passou na madrugada de terça-feira levam uma deputada a questionar na Assembleia da República o ministro da Administração Interna

Os hematomas na cara e nos braços e um maxilar partido vão custar a Vasco Dias, de 19 anos, duas semanas de internamento e obrigá-lo a alimentar-se através de palhinha. Vasco entrou anteontem no Hospital de S. José, em Lisboa, onde continuará a recuperar da operação à mandíbula a que foi submetido na terça-feira, na sequência de alegadas agressões que, segundo garante, foram cometidas poragentes da PSP. Uma amiga, Laura Diogo, de 18 anos, que estava com ele no Bairro Alto na madrugada em que tudo aconteceu, apresenta hematomas no cotovelo, na orelha e na pálpebra, tendo também sido examinada no hospital. Contactada pelo PÚBLICO, a PSP nega as agressões e conta outra versão dos factos.

Os dois jovens tinham saído, por volta das 3h, de um jantar num restaurante do Bairro Alto, e dirigiam-se para o Cais do Sodré. Pelo caminho, perto do Largo Camões, Laura começou a "cantar" e a fazer "percussão" num caixote do lixo. Laura conta a sua versão ao PÚBLICO: "Um indivíduo à civil abordou-me de forma agressiva e disse para eu parar, mas não se identificou. Eu reagi e ele deu-me um estalo e um murro."

Momentos depois, surgiu um veículo da PSP, do qual saíram três agentes, um fardado e os restantes à civil, garantem os jovens, sublinhando que quando Laura pediu a identificação aos polícias, estes "guardaram" as placas com o nome.

O Vasco veio depois, "perguntou o que se passava e eles atiraram-no ao chão e começaram a pontapeá-lo, na cara e na cabeça", alega Laura, acrescentando que ela própria era alvo de agressões. Os dois foram depois algemados e conduzidos à 2.ª esquadra da Praça do Comércio.

PSP tem outra versão

O gabinete de relações públicas da PSP apresenta, porém, uma história diferente. "Os jovens foram levados para a esquadra, porque não quiseram identificar-se no local." A mesma fonte explica que o primeiro agente se deslocou ao local porque a PSP recebeu "uma comunicação indicando que havia indivíduos a pontapear caixotes do lixo no cruzamento entre a Rua da Emenda e a Rua do Loreto".

O agente, "devidamente identificado", advertiu a jovem, mas ela "recusou-se a acatar a ordem" e "recusou identificar-se", explica a polícia. No entanto, Laura garante que nunca lhe pediram identificação, nem na esquadra, e diz que quando tentou falar com os pais lhe foi negado o telefonema porque "como não estava detida, não tinha esse direito". "Chamaram-me nomes e nunca me explicaram porque estive ali", refere.

Confrontada com o facto de um dos jovens ter sido depois hospitalizado e submetido a uma cirurgia, fonte da PSP afirma que "não lhes foi dado qualquer tipo de assistência porque não houve agressões por parte de nenhum dos agentes".

Vasco e Laura saíram da esquadra às 4h25 e dirigiram-se de táxi ao Hospital de S. José, onde o jovem foi internado por ter o maxilar fracturado, de acordo com fonte hospitalar.

Segundo o gabinete de imprensa do Hospital de S. José, "a partir do momento em que uma agressão é indicada como motivo da deslocação (às urgências), uma cópia da folha de admissão é automaticamente enviada para o posto de polícia" que fica junto às instalações do hospital, decorrendo depois as diligências necessárias.

Os jovens afirmam que vão apresentar queixa pelo sucedido. A deputada Helena Pinto, do Bloco de Esquerda, dirigiu ontem ao ministro da Administração Interna uma pergunta para esclarecer o que se passou.

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