Num Mustang até ao Grand Canyon

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Não é em qualquer carro que podemos ir ao Grand Canyon. No rent-a-car escolhemos um Mustang branco, depois de termos abandonado rapidamente a ideia de alugar um descapotável para fazer cinco horas de estrada pela escaldante paisagem do Arizona. A opção, para muitos turistas que só querem gastar um dia a ver maravilhas da natureza em vez de fichas de poker, é ir e vir de helicóptero, mas aí perde-se toda uma viagem pela América mais profunda, onde não faltam índios e cowboys, dinners com jukeboxes, bares de beira de estrada mal iluminados, motéis com néons avariados e americanos que acham que a Sarah Palin devia ser Presidente dos EUA.

De carro, portanto, o percurso a seguir é em direcção à barragem Hoover, um monumento à engenharia moderna construído para dominar as águas do rio Colorado e inaugurado (antes do prazo) em 1936. Já não é a maior barragem do mundo mas não deixa de ser impressionante. E tem umas lindíssimas casas de banho públicas art deco que, só por si, valem a pena a viagem.

Depois aceleramos até Kingman por uma planície que é tudo aquilo que vimos nos filmes on the road e escolhemos música mexicana como banda sonora. Em Seligman apanhamos uns quilómetros da Route 66 e começamos a arrepender-nos de não termos tirado pelo menos dois dias para esta viagem, com dormida num motel incluída. Podíamos simplesmente ir mais devagar, mas Vegas espera por nós esta noite e ainda faltam muitos quilómetros até chegarmos ao Grand Canyon.

Segue-se Williams (e aqui também ficamos com vontade de parar) e finalmente o último esticão até chegarmos ao lado sul do Grand Canyon, obra geológica maravilhosamente esculpida ao longo de séculos pelo rio Colorado e os seus afluentes.

Fazemos aquilo que todos os turistas fazem numa visita de curtíssima duração: tiramos fotografias e compramos t-shirts. Depois, enfiamo-nos no Mustang outra vez, fartos de música mexicana e com o rabo dorido de tantas horas de viagem, com a perspectiva de chegarmos a Vegas lá para as três da manhã.

Valeu a pena, mas já na nossa megacama do nosso megaquarto no nosso megahotel-casino, juramos que para a próxima vez vamos com calma visitar uma das paisagens mais selvagens e monumentais do planeta. Marcamos dormida e comida num rancho ou numa cabana do parque natural, damos passeios de mula, pegamos numa canoa e enfrentamos os rápidos que correm bem lá em baixo e exploramos os desfiladeiros dos filmes de John Ford. Com o sol a pôr-se nas nossas costas, fixamos para sempre na nossa memória a pedra rochosa do Canyon a ficar cor de fogo, escaldante, como os dias de Las Vegas.

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