Câmara de Mirandela transfere para o Arquivo Municipal professora que posou nua em revista

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Fotografias de professora criaram "alarme social", diz a câmara JOANA FREITAS/PLAYBOY PORTUGAL

São oito páginas da Playboy com fotografias de uma professora que lançaram a última polémica no Nordeste Transmontano

"Ela foi arquivada." Era assim que ontem à tarde se comentava em Mirandela o afastamento das actividades lectivas de uma professora do primeiro ciclo do Ensino Básico em Torre de D. Chama (Mirandela), que posou nua para a revista Playboy.

O assunto já está a ser falado em Mirandela há algumas semanas, mesmo antes de a revista surgir nas bancas. Mas só quando uma colega de Bruna Real, em Torre de D. Chama, onde aquela professora leccionava dez horas semanais de Actividades Extracurriculares (AEC), denunciou a situação a um jornal é que a "bomba" verdadeiramente estourou.

Já na quarta-feira, o director do agrupamento, José Garcia, denunciara à câmara o caso da professora de 25 anos que posou nua para a revista num ensaio de oito páginas. As fotografias acabaram por ir parar às mãos de alunos, pais e colegas, o que, de acordo com uma carta enviada à câmara, causou mau ambiente na escola. Segundo Gentil Vaz, vereadora da Educação na autarquia mirandelense, "já toda a gente gozava com a situação". Por isso, e pelo "alarme social causado", foi decidido o seu "afastamento das actividades lectivas", e de "qualquer contacto com alunos, pais ou colegas", segundo explicou ao PÚBLICO a vereadora, uma vez que é a autarquia a responsável pela contratação de docentes para as AEC. Bruna Real foi colocada no Arquivo Municipal, com o seu consentimento. "Dá-me a sensação que se arrependeu. Contou-me, a chorar, que tinha feito as fotografias no Verão e que, como não foram publicadas na altura, já não o seriam", recorda Gentil Vaz.

José Silvano, o presidente da autarquia, já decidiu que não irá ser renovado o contrato da professora, que termina a 30 de Junho. Um contrato com remuneração inferior a 500 euros, "a recibos verdes".

Muitos acabam, por isso, por "compreender" Bruna Real. Apesar de poucos quererem dar o nome, não recusam deixar a sua opinião. Liliana Morais, que trabalha num dos quiosques da margem do Tua, diz que "as pessoas é que são preconceituosas". "Se ela gosta disto, acho que faz bem", sublinha. Mesmo assim, admite que "arriscou um bocado a profissão dela". Curiosamente, a edição de Maio da Playboy parece ter feito mais furor entre elas do que entre eles. "Vendi sete revistas, mas só duas é que foram a homens", revela.

De facto, foi isso que M.P., dono de um quiosque alguns metros mais à frente mas que prefere não dizer o nome, mais estranhou. "Já se falava do assunto uma semana antes de sair a revista. Mas o que mais achei estranho foi o facto de serem as mulheres quem mais a procurava", confessa. "Talvez por curiosidade." Em dois dias vendeu os 12 exemplares que tinha disponíveis. "Mas podia ter vendido o triplo. Houve gente que mandou vir de Valpaços, Vila Real e até do Porto", conta.

Da família, comenta-se que Bruna tem total apoio dos pais. Aliás, "foi a mãe quem fez mais publicidade à revista" em Mirandela. Os avós "é que não acharam bem", conta um amigo da família, que também prefere o anonimato. Bruna, essa, remete-se ao silêncio. Ao PÚBLICO diz apenas que, "para já", não dá entrevistas.

Quem aceita falar é Sónia Geraldes, que actualmente trabalha num café da cidade, mas que em 2006 também posou para várias revistas, incluindo a FHM. "Há sempre pessoas que nos apoiam e outras que nos criticam. Sobretudo as mais velhas", diz. Na altura lembra-se de ouvir comentários "pelas costas", mas garante que "soube ultrapassar isso".

Da parte do Ministério da Educação, a posição oficial é a de que "a professora foi contratada pela autarquia" para as AEC. "A escola e o ministério, obviamente, acompanham agora, como sempre, as situações que envolvam alunos".

Mário Nogueira, líder da Fenprof, em declarações à TSF, já disponibilizou à professora os serviços jurídicos do sindicato, pois considera que a situação é do foro pessoal.

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