Descida do Tejo em protesto contra o nuclear

Na acção foram recusados novos transvases no Tejo e exigido o cumprimento da Directiva Quadro da Água

Uma descida do Tejo juntou ontem cerca de 80 canoístas e de 30 embarcações, entre a barragem espanhola de Cedillo e as Portas de Ródão, zona onde o rio entra em Portugal. A iniciativa, liderada pelo movimento ProTejo, em parceria com outras organizações ambientalistas portuguesas e espanholas, pretendia sensibilizar para a defesa da sustentabilidade do grande rio ibérico e protestar contra a energia nuclear.

No final foi lida uma Carta Contra a Indiferença que recusa novos transvases no Tejo e exige o cumprimento da Directiva Quadro da Água, a monitorização permanente do cumprimento dos caudais mínimos do Tejo e a investigação de alternativas sustentáveis baseadas no uso eficiente da água. Este segundo cruzeiro Vogar Contra a Indiferença incluiu também uma paragem na aldeia de Salavessa, concelho de Nisa, com o objectivo de alertar para os riscos da extracção de urânio nesta região, para os problemas associados à produção de energia nuclear na vizinha central espanhola de Almaraz e para a eventual instalação nesta zona de um cemitério de detritos nucleares que o Governo espanhol pretende criar. A Carta Contra a Indiferença declara, por isso, que neste futuro sustentável "não têm lugar nem o urânio, nem o nuclear, enquanto recursos energéticos insustentáveis do ponto de vista do desenvolvimento ambiental, social e económico, que colocam em risco a segurança dos cidadãos".

Organizada pelo movimento ProTejo, em articulação com a Quercus e a associação Salavessa Viva, a descida do Tejo envolveu também outras associações portuguesas e espanholas, e contou ainda com o apoio dos municípios de Nisa, Vila Velha de Ródão e Vila Nova da Barquinha, da Associação de Estudos do Alto Tejo, da Naturtejo Geopark e da Rede de Cidadania por Uma Nova Cultura da Água do Tejo

Entretanto, o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, recebeu o movimento ProTejo na quinta-feira e disse ao PÚBLICO que tem havido "relações de colaboração exemplar" entre os dois governos ibéricos nesta matéria.

O Ministério do Ambiente espanhol garantiu de que "não tem planos de novos transvases em cima da mesa e que se algum dia tiver de os considerar fará a devida articulação com Portugal, ao abrigo da Convenção de Albufeira". Segundo o governante, se há planos para novos transvases entre governos regionais espanhóis, "o assunto tem que ser primeiro dirimido dentro de Espanha, mas há o compromisso de que, se algo avançar, será com o conhecimento e acordo" do Governo português. Sobre o incumprimento dos caudais mínimos previstos para o Tejo em 2009, Humberto Rosa diz que foram accionados mecanismos de compensação.

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