Lordelo do Ouro, bairro rico, bairro pobrePorto

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Cerca de 11 mil pessoas habitam nos nove bairros sociais de Lordelo do Ouro. A classe média/média alta tem contribuído para o aumento demográfico da freguesia Nelson garrido

É a freguesia que concentra mais bairros sociais no Porto, mas é também um território de condomínios e hotéis de luxo. Por Mariana Pinto

aQuando perguntamos a Gabriela Queirós o que mais gosta na freguesia a que preside desde Outubro de 2009, a resposta é politicamente correcta: "A diversidade." O pior? É simples: "As carências sociais e a falta de capacidade para resolver tudo."

Encontrar um ponto de partida para compreender a freguesia de Lordelo do Ouro, no Porto, não é fácil: começar pelos bairros sociais ou pelos condomínios e hotéis de luxo? Pela significativa classe média/média alta que por lá habita ou pelas quase 11 mil pessoas que vivem nos nove bairros da freguesia?

Lordelo é um emaranhado de tudo - com tudo de bom e de mau que isso acarreta. Gabriela Queirós analisa: "A freguesia tem crescido demograficamente com alguma população de classe média/média alta, que tem enriquecido Lordelo, mas nós temos cá dentro nove bairros sociais." E, perante este cenário, o primeiro desafio da junta de freguesia é "fazer as pessoas compreender que não podemos resolver todos os problemas". Depois, há que "investir naquilo que depende exclusivamente da junta e canalizar para a câmara o mais possível". Gabriela Queirós falava da falta de competências legais que as juntas de freguesia têm para resolver os problemas ("temos poucos poderes e competências muito limitadas") e da "limitação de fundo" em que esbarra constantemente: "O orçamento", lamenta a presidente.

"Mudar mentalidades"

Não fossem os problemas financeiros, o trabalho da junta poderia ser substancialmente diferente: "No que toca a apoio social, temos poder para intervir em quase tudo", conta. E é isso que a ADILO - Agência de Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro - tem procurado fazer. A luta estrutural, acredita Gabriela Queirós, passa por fazer as pessoas compreender que há vida além do bairro: "Quem vive no bairro não sai de lá; como só conhecem aquela realidade, não procuram outra coisa fora dela." A habitação social "devia ser, por definição, uma situação provisória" e "a terceira geração já não devia viver no bairro, o que acontece muito frequentemente", lamenta. E apressa-se a acrescentar: "É óbvio que dependemos sempre do sítio onde nascemos, mas é por isso que é urgente mudar mentalidades."

Os nove bairros de Lordelo - é a freguesia que mais habitação social concentra no Porto -, onde vive cerca de metade da população da freguesia, não são um foco de insegurança, assegura, mas o Aleixo sim. "O sentimento de insegurança no Aleixo é incontrolável" (ver texto ao lado).

E se o maior problema de Lordelo, no que toca a insegurança, é o Bairro do Aleixo, o problema pode estar prestes a desaparecer. Depois de muita discussão, a decisão da autarquia parece ser definitiva: as torres vão ser demolidas, as pessoas vão ser realojadas noutros bairros da cidade e no mesmo local nascerá habitação de luxo construída por um privado. A junta acredita que "a proposta da câmara foi muito bem pensada e montada". E explica: "A câmara toma consciência de que aquilo é uma zona apetecível do ponto de vista imobiliário" e, "no que toca à segurança, aquela população vai beneficiar do facto de sair dali". Para a social-democrata eleita em Outubro passado, a maioria dos moradores vai acabar por compreender que sair do Aleixo é a melhor solução para eles.

Os poucos que não compreenderem serão, "em muitos casos, aquelas que beneficiam com o facto de o Aleixo ser um espaço propício para a prática de determinados actos ilícitos". Se a extinção do Aleixo vai pôr um ponto final aos problemas de droga? "Vai destruir um foco - que é quase um supermercado de droga a céu aberto - e diminuir o problema genericamente."

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