Incerteza é a única palavra possível na crise da Tailândia

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A polícia disparou balas de borracha contra os "camisas vermelhas" ERIC GAILLARD/REUTERS

Os "camisas vermelhas", que exigem eleições antecipadas, desafiaram o estado de emergência. Houve mais violência e mais um morto

Foi um teste à determinação das forças de segurança e ao estado de emergência na Tailândia. Mas o desafio lançado ontem por milhares de "camisas vermelhas" não teve como resultado apenas um soldado morto e 18 feridos. Veio demonstrar também que a incerteza é a única palavra que resulta deste braço-de-ferro que há semanas paralisa Banguecoque.

Cerca de dois mil manifestantes, que exigem eleições antecipadas, deixaram o seu "quartel-general" em Ratchaprasong - o principal bairro financeiro da capital e o único onde estão autorizados a lançar protestos. Deslocando-se em carrinhas e motos, ignoraram avisos sucessivos para que respeitassem o estado de emergência imposto pelas autoridades. O seu objectivo seria conseguir montar uma barricada para impedir os soldados e a polícia de juntar reforços vindos de províncias fora de Banguecoque.

Uma centena avançou, deixando atrás de si a principal coluna de veículos, e começou a investir contra as forças de segurança, relatam testemunhas ouvidas pela Reuters. Pedras, balas de metal e foguetes foram usados como armas contra as forças de segurança, que responderam primeiro com balas de borracha e depois com fogo disparado para o ar. Terá vindo de "fogo amigo" a bala que atravessou o capacete do soldado que morreu.

Este foi o primeiro confronto físico desde que foram lançadas cinco granadas perto de um local onde decorria uma manifestação anti-"camisas vermelhas", há uma semana, matando uma pessoa.

Foi preciso cair uma tromba-d"água para deter a violência. As análises vieram logo a seguir. "Os "camisas vermelhas" estavam a testar a vontade das forças de segurança, e agora viram que o Governo está a começar a levar isto a sério", comentou à Reuters Somjai Phagaphasvivat, da Universidade Thammasat. "Mas é difícil declarar vitória para cada um dos lados com o incidente de hoje [ontem]. Ainda há muita incerteza".

Num artigo de opinião publicado no Bangkok Post, Veera Prateepchaikul escreve que "as escaramuças eram previsíveis" a partir do momento em que os "camisas vermelhas" ignoraram os avisos lançados pelo Centro de Resolução de Situações de Emergência (CRES, na sigla inglesa). "A sua verdadeira intenção era desafiar o CRES e provar que os "camisas vermelhas" ainda têm a capacidade de causar distúrbios na capital e, mais importante, manter os seus seguidores num espírito de combate, depois de se terem tornado redundantes sem quaisquer actividades na sua fortaleza de Ratchaprasong.

Um reino dividido

A Reuters refere que raramente os tailandeses estiveram tão divididos, e fala-se numa guerra civil a aproximar-se. Os analistas apontam para a participação de elementos do Exército liderados por generais na reforma no apoio aos manifestantes. Serão forças leais ao chefe máximo dos "camisas vermelhas", o antigo primeiro-ministro Thaksin Shinwatra, derrubado em 2006 por um golpe.

A crise está também a afectar a economia do país: as previsões apontavam para um crescimento de 4,5 em 2010; se os confrontos continuarem por mais três meses, será preciso retirar 0,64 pontos a esse número. Muitos hotéis e lojas estão de portas fechadas. Seis por cento da economia tailandesa depende do turismo, sector que de forma directa ou indirecta emprega 15 por cento da população activa.

A AP salientava que o incidente de ontem faz recear que a paciência do Governo esteja realmente a chegar ao fim, depois de 26 mortos e sete semanas de confrontos.

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