Hungria entrega-se de alma e coração a Viktor Orbán

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Orbán disse que ontem foi "o fim de uma era" REUTERS/Laszlo Balogh

O próximo senhor com quem se fala em Budapeste vira o país à direita com uma maioria arrasadora, num estado em crise profunda

A Hungria tornou-se ontem no primeiro país da antiga Europa comunista a ser governada por um partido capaz de proceder, sozinho, às mudanças constitucionais que prometeu aos eleitores. Num país afundado numa grave crise económica e social, onde surgiu uma direita radical e xenófoba, são grandes as expectativas sobre como irá Viktor Orbán, o líder do Fidesz (centro-direita) lidar com os problemas que os húngaros confiam que irá resolver.

O Partido Socialista sai do poder, após oito anos de governação marcados pela crise que obrigaram a Hungria a ser o primeiro país da União Europeia a recorrer a um empréstimo do FMI, em 2008. Após a segunda volta das legislativas, o Fidesz conquista 263 dos 386 assentos no Parlamento, cinco a mais do que os necessários para a maioria de dois terços.

Com esta maioria, o Fidesz poderá mudar a Constituição e a legislação que regula o sistema eleitoral, os media e os direitos de cidadania - pontos fundamentais do seu programa. Orbán, aclamado por milhares de fiéis agitando bandeiras, falou numa "revolução nas urnas" relata a AFP. "Os húngaros chegaram hoje a um acordo nacional que significa o fim da era que mergulhou o povo na pobreza e no desespero", disse Orbán.

Ainda antes da votação de ontem, uma sondagem do Instituto Nezopont revelava que 57 por cento dos eleitores viam mais benefícios do que riscos em que o Fidesz ganhasse uma maioria de dois terços, adiantava a agência noticiosa húngara MTI.

Os mercados financeiros olham expectantes esta maioria avassaladora, que propõe mudar a administração local, apontada como um sorvedouro de dinheiro. Orbán promete reduzir o número de eleitos locais e cortar nos orçamentos públicos. E limitar de forma drástica o número de deputados.

O próximo primeiro-ministro tenciona também cortar os impostos e combater a corrupção - mas tem sido parco em detalhes. Isso deixa os mercados nervosos, porque os últimos anos da sua anterior experiência como chefe do Governo (1998-2002) foram marcados pelo populismo.

A questão da nacionalidade

Um dos primeiros gestos do próximo executivo deve ser conceder nacionalidade húngara, com passaporte e direito de voto, às pessoas de cultura magiar que vivem nos países vizinhos. São cerca de três milhões, na Ucrânia e na Roménia, entre outros, e um caldeirão de potenciais conflitos. A Ucrânia, por exemplo, não contempla a possibilidade da dupla nacionalidade. E com a Eslováquia, que fez do eslovaco a única língua oficial, já houve desentendimentos. Uma grande incógnita é a forma como lidará com o Jobbik, o partido de extrema-direita anticiganos e antijudeus, que entra pela primeira vez no Parlamento, com 16,67 por cento dos votos e 47 deputados.

O partido liderado por Gábor Vona torna-se, quase da noite para o dia, a terceira maior força política. E tem ambições: por exemplo, a liderança das comissões parlamentares de Negócios Estrangeiros e Segurança Nacional. Para mostrar "que o radicalismo também tem um rosto profissional", disse Vona, citado pela MTI.

Porquê estas comissões? Provavelmente porque se relacionam com as comunidades de cultura magiar no estrangeiro, tema caro aos nacionalistas, e as relações exteriores - por exemplo com a União Europeia, da qual o Jobbik quer sair.

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