Mais parra do que uva

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O Renault Fluence, que Daniel Rocha fotografou, está a meio caminho entre o Mégane e o Laguna. Esta berlina três volumes, na opinião de João Palma, está bem equipada e tem um certo status, mas falta-lhe uma motorização a condizer

O Renault Fluence é uma berlina tricorpo de 4 portas que partilha muitos elementos mecânicos com o Mégane, mas com equipamento superior, posicionando-se entre este e o Laguna. Em Portugal, o Fluence só tem uma motorização, a variante de 105cv do conhecido bloco 1.5 dCi, a gasóleo, e o nível de equipamento mais elevado, Exclusive. O veículo que a Fugas conduziu tinha pintura metalizada e o Pack Look (tecto de abrir e jantes de 17 polegadas), o que lhe eleva o preço de 26.650 para 27.330 euros.

Produzido na fábrica Oyak-Renault de Bursa (Turquia) e vendido em mais de 80 países, este veículo, segundo a marca francesa, é "uma proposta destinada aos clientes que procuram berlinas com estatuto", por um preço inferior ao de um Laguna. Para Portugal, a Renault optou por disponibilizar apenas o motor 1.5 dCi com 105cv por ser o mais adequado às características do mercado. Porém, pesando o Fluence quase 1,3 toneladas, apesar das qualidades deste bloco (que nas suas diversas variantes equipa muitos modelos da aliança Renault-Nissan), o que se lhe pede é como exigir a um halterofilista de 60 kg que levante pesos de 200 kg.

É no arranque que a falta de potência se torna mais notória: abaixo das 1500 rotações o carro não se mexe e o motor vai abaixo. Tem que se iniciar a marcha sempre em primeira e com o acelerador bem pisado. Se, por exemplo, num semáforo, o condutor se distrai e tenta arrancar em segunda, "puff" ... Há que voltar a pôr o motor a trabalhar e escutar as buzinadelas dos outros automobilistas.

Em andamento, e acima das tais 1500 rotações, o comportamento do carro é razoável, sem grandes rasgos, mas sem grandes perdas de potência, mesmo em subidas um pouco mais inclinadas. A velocidades moderadas, os consumos também o são: registámos uma média de 6,6 l/100 km em percurso misto. No entanto, esta média está longe dos 4,5 l/100 km anunciados pela marca. Se quiser poupar, é melhor não pisar muito o acelerador. Caso contrário, o consumo instantâneo atinge rapidamente os 2 dígitos.

Por fora, o carro tem linhas sóbrias e elegantes que conferem a esta berlina do segmento C o aspecto de um veículo de nível superior. Por dentro, esta impressão mantém-se. A qualidade dos materiais e acabamentos é boa, complementada pelos estofos em pele. Há muito espaço no habitáculo para os 5 ocupantes, embora atrás, quem tenha mais de 1,80 m possa roçar com a cabeça no tecto. Os bancos são cómodos mas o recheio é um pouco mole, pelo que em curva e numa condução mais rápida não sujeitam tanto o corpo como deveriam.

É fácil de encontrar uma boa posição de condução: o volante é regulável em altura e profundidade, tal como os bancos dianteiros. A instrumentação, apesar de completa, é de muito fácil leitura e manuseio - em poucos minutos, percebem-se todas as funções e como accioná-las. Os visores do velocímetro e do conta-rotações são analógicos; os do computador de bordo, sistema de navegação TomTom (de série), rádio e climatizador são digitais.

No que se refere à segurança passiva, apesar de esta berlina se afigurar bem equipada, ainda não foi submetida a testes de colisão pelo consórcio EuroNCAP. No entanto, os resultados não deverão ficar longe dos que foram alcançados pelo Mégane que lhe dá origem.

Sendo um carro de características familiares, deveria haver mais espaços para arrumar pequenos objectos - falta mais notória quando se viaja com crianças. Então atrás, há apenas 2 minúsculas bolsas nas portas. Esta falta é compensada parcialmente pelos 530 litros de volume da bagageira, capacidade que pode ser acrescida pelo rebatimento dos bancos traseiros. A abertura da mala é ampla, mas o rebordo traseiro é elevado em relação ao fundo e não há uma rede ou ganchos de fixação para pequenos objectos, pelo que, se se transportam, por exemplo, sacos de supermercado, com a tendência de estes deslizarem até às costas dos bancos traseiros, recuperá-los torna-se um exercício de ginástica.

Em resumo, num mercado como o português, onde carrinhas e 5 portas são o tipo de carroçarias preferidas pela sua maior modularidade em relação a uma berlina de 3 volumes, o Renault Fluence reduz a desvantagem através da sua mala espaçosa (com possibilidade de ampliação), pelo visual (que lhe confere um certo status) e pelos acabamentos e equipamento. A única coisa que não corresponde à imagem que a Renault pretende transmitir é mesmo o motor...O pau para toda a obra

Este bloco a gasóleo com 1461cc da aliança Renault-Nissan serve para tudo. Desde o Dacia Sandero (a partir de 70cv), ao Renault Laguna, com 110cv, passando por este propulsor de 105cv que também pode equipar, por exemplo, o Nissan Qashqai. No caso do Fluence, que pesa cerca de 1,3 toneladas, a corda está esticada até ao limite. Isso nota-se em especial no arranque: sempre em primeira e com o acelerador bem pisado, porque a menos de 1500 rotações o carro vai abaixo. Em estrada, desenvolve bem, mesmo a subir, mas, se se acelera um pouco mais, o consumo sobe exponencialmente: numa condução mista, sem forçar muito, a média foi de 6,6 l/100 km, bem acima do anunciado pela Renault.

À prova de idiota

O Fluence tem um certo status e qualidade, de que são exemplo os estofos forrados a pele. Apesar de estar bem equipado, inclusive com sistema de navegação TomTom de série, climatizador duplo, bancos aquecidos e um bom rádio/CD, a leitura do painel de instrumentos (com visores analógicos) é muito fácil e o accionamento dos comandos muito simples e intuitivo - verdadeiramente à prova de idiota e longe da multiplicidade de botões que faz com que o posto de condução de muitos veículos seja por vezes confuso e algo difícil de decifrar.

E as crianças?

O Fluence é um familiar com vocação de estradista. A Renault anuncia que esta berlina tem 23 litros de espaços para arrumações no habitáculo, incluindo um porta-luvas refrigerado de 9 litros, mas olha-se para as bolsas laterais das portas, reduzidas à frente e exíguas atrás, para o pequeno espaço entre o travão de mão e a alavanca das mudanças, para a inexistência de mais compartimentos no tablier para além do porta-luvas, e fica-se a pensar onde pôr garrafas grandes ou a miríade de pequenos objectos que se tornam necessários, em especial em viagens longas com crianças.A cova funda

Se no habitáculo se sente a falta de mais espaço para objectos, a mala, em compensação, tem 530 litros de capacidade. Além disso, a inexistência de separação entre bagageira e bancos traseiros e a possibilidade de rebater estes (embora não formem uma superfície plana) fazem com que o Fluence tenha uma modularidade acrescida. Porém, sem fixações ou rede na bagageira, os objectos (por exemplo, sacos de supermercado) têm tendência para deslizar até ao fundo da mala. Como, ainda por cima, há um rebordo alto na abertura, "pescar" pequenos objectos situados no fundo da cova funda torna-se um exercício de flexibilidade.

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