Final da Taça é no Estádio Nacional. Para os homens e, agora, para as mulheres

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Carla Cristina nunca imaginou encerrar a carreira no Jamor PAULO RICCA

A partida desta tarde pode ser o início de uma reviravolta no futebol feminino, acreditam as protagonistas. Apesar das dificuldades quotidianas, o empenho é total e o optimismo também

Abrantes, Pedroso (Vila Nova de Gaia), Fátima, Pombal, Nazaré e Cucujães: estes são os locais que já acolheram a final da Taça de Portugal de futebol feminino. Este ano, pela primeira vez - e tal como acontece há 65 anos com a final masculina -, o jogo decisivo da prova realiza-se no Estádio Nacional, no Jamor. O que não é um pormenor.

Boavista e 1.º de Dezembro são as equipas que se defrontam hoje, às 16h, no relvado do Jamor. "É uma forma de reconhecimento e um momento grandioso", reconhece Carla Couto, avançada do 1.º de Dezembro e da selecção nacional. "É a concretização de um sonho", acrescenta Nuno Cristóvão, treinador do clube de Sintra. "É uma grande alegria", sublinha Anabela Silva, técnica do Boavista. "É um feito muito grande, um orgulho", admite Sandra "Figo" Silva, média da equipa do Bessa.

Há, nas palavras de todos, o entusiasmo que antecede um grande momento. Vai fazer-se história. Mas como preparar um grupo de futebolistas amadoras para o que vai acontecer? "Não é uma situação fácil, mas também não é difícil, porque o que as jogadoras querem é estar ali, pisar aquele palco", refere Nuno Cristóvão. O técnico identifica, entre as suas jogadoras, uma série de sentimentos. "Sinto grande confiança, grande expectativa, grande nervosismo. Há de tudo", diz. Anabela Silva (ou "Bé", como é conhecida no meio) tentou explicar às suas atletas o significado desta final: "É uma conquista de há muitos anos, mas quem chegou agora ao futebol feminino não sente isso".

Não é, de certeza, o caso de Carla Cristina, guarda-redes e "capitã" do 1.º de Dezembro. "Trata-se do meu último ano a jogar futebol, por isso, se vencermos, vai ser a cereja em cima do bolo", disse ao site da Federação Portuguesa de Futebol.

O reverso da medalha

Houve um longo caminho a percorrer até ao Jamor, e cada dia é um desafio novo. "Tenho atletas que fazem, para treinar, entre 50 e 70 quilómetros. Treinam às 21h30, acabam às 23h e depois ainda têm que apanhar o comboio. Chegam a casa à 1h e têm que se levantar cedo para trabalhar", exemplifica a treinadora do Boavista. "É preciso elas quererem muito para continuarem", acrescenta "Bé".

No 1.º de Dezembro, o panorama é idêntico, apesar de o clube ser uma espécie de oásis a nível nacional. Pelos títulos conquistados - nove dos últimos dez campeonatos e quatro taças em sete - e pela participação nas competições europeias. Mesmo assim, não existem ordenados. "Recebem um subsídio simbólico para o transporte", esclarece Nuno Cristóvão. O resto é "grande amor à modalidade e grande paixão".

Com uma dose grande de optimismo, acredita-se que a final do Jamor pode contribuir para as coisas mudarem. "Pelo menos mais visibilidade vai trazer. A aposta da federação em realizar a final no Jamor é uma forma de divulgar a modalidade", frisa Sandra Silva. "Que seja a primeira de muitas", deseja "Bé".

"É importante melhorar as infra-estruturas para o futebol feminino", pede Carla Couto, confiante numa reviravolta no futebol feminino. O futuro vai ser melhor, acredita a avançada: "Que pena tenho de ter 36 anos. Daqui a uns anos pode ser uma modalidade praticada com alguma seriedade".

A seriedade já lá está, o resto vem aí.

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