Torne-se perito

Quando o ?apartheid religioso critica a islamofobia Título de caixaReligiões proibidas

Entre os que acusaram os suíços de "racismo" pela proibição dos minaretes estavam países islâmicos onde só os fiéis de Alá podem rezar

Escreveu Iman Kurdi, colunista do diário Arab News: "Não sejamos hipócritas. Se realizássemos um referendo num país muçulmano a perguntar se deveria ser autorizada a construção de novos campanários de igrejas, a resposta também seria um "não" esmagador. Por isso, não vamos tratar isto como um fenómeno suíço, e lembremo-nos de que quem apoiou a proibição [dos minaretes nas mesquitas] não foi a maioria dos suíços mas daqueles que votaram, o que, se fizermos bem as contas, representa 30 por cento da população."

Kurdi, muçulmana residente em Londres, deve saber o que diz. Afinal, ela escreve para um jornal da Arábia Saudita, o país que segue a doutrina fundamentalista sunita wahabita, que discrimina os seus muçulmanos xiitas, que não permite a construção de templos cristãos ou de qualquer outra confissão religiosa, que não deixa entrar no reino uma única Bíblia e que castiga com a pena de morte as conversões a outras crenças que não o islão. E a Arábia Saudita, que tanto se indignou com a votação dos suíços, não é o único Estado islâmico onde não muçulmanos e seitas muçulmanas minoritárias são desapossados de direitos e/ou perseguidos.

Podemos condenar a "islamofobia" na Confederação Helvética sem a relacionar com o "apartheid religioso" nos países muçulmanos onde uma velha jurisprudência pretensamente "divina", reforçada por novas leis de apostasia e blasfémia, impedem as minorias de terem vidas normais? Esta questão tem sido levantada em vários jornais e blogues por todo o mundo desde o referendo suíço.

"Two wrongs do not make a right", responderam ao PÚBLICO, por e-mail, Clinton Bennett, académico britânico que foi missionário da Igreja Baptista no Bangladesh, e Omid Safi, influente intelectual muçulmano nos Estados Unidos - ou seja, o facto de os suíços e os Estados islâmicos que os criticaram estarem errados não quer dizer que uns tenham mais razão do que outros.

"O referendo suíço é um exemplo inquestionável de racismo, demonstração de medo e xenofobia", sublinhou Omid Safi, autor de Memories of Muhammad: Why the Prophet Matters. "É simplesmente inaceitável que uma sociedade plural como a Suíça limite a capacidade de cidadãos construírem locais de oração como eles acharem melhor. Francamente, este é o tipo de restrições que, há alguns séculos, eram impostas aos judeus na Europa. É profundamente perturbador ver que estes receios estão a ser ressuscitados e dirigidos contra uma nova minoria."

"Não foram os locais de oração que foram proibidos", constata Iman Kurdi, no Arab News. "Um minarete não é estritamente necessário num local de oração muçulmano; uma mesquita sem minarete continua a ser uma mesquita. O objectivo do minarete é chamar os fiéis à oração e, nos tempos actuais, a tecnologia substituiu a sua necessidade. É certo que o minarete se tornou símbolo do islão, parte da sua arquitectura e da sua história, mas não se pode argumentar que proibir os minaretes impede as pessoas de praticar a sua fé. Proibir a construção de mesquitas seria violar os direitos de os muçulmanos praticarem a sua fé, e não é este o caso."

Mesquita sem minarete

Acrescenta, ao PÚBLICO, Clinton Bennett: "A Mesquita de Maomé em Medina não tem minarete. Tecnicamente, só a qiblah [que aponta a direcção para Meca] é essencial numa mesquita. Os minaretes só começaram a aparecer há cerca de 100 anos, tal como as cúpulas. Não há dúvida que se transformaram num importante acessório arquitectónico - basta olhar para a Mesquita Azul, em Istambul e para os seus seis minaretes, representando o equilíbrio. Mas há muitas mesquitas no mundo muçulmano que não têm minaretes, porque eles são opcionais. O minarete tornou-se, sim, símbolo do islão, como a lua crescente e a cor verde."

"Ditar como uma comunidade religiosa deve construir os seus lugares de oração levanta questões de direitos humanos", concorda Bennett, professor na State University of New York, doutorado em Oxford em História das Religiões e, em particular das relações entre o cristianismo e o islão. "Quando existiam impedimentos legais contra os judeus, eles não podiam construir sinagogas demasiado ostensivas, nem mais altas do que os templos cristãos. Por vezes, as sinagogas eram simples por fora e muito ornamentadas no interior. Também os cristãos que vivem em países muçulmanos ainda enfrentam restrições à construção e restauro das suas igrejas. É claro que nada disto se justifica."

Bennett admite, porém, que há questões a considerar no modo como as mesquitas se erguem na paisagem suíça. "Quando se construiu o Centro de Estudos Islâmicos em Oxford, foram contratados arquitectos para associar o estilo islâmico clássico à arquitectura das faculdades ao estilo de Oxford, de modo a resultar num design apropriado", explicou. "Ora, é isto que deve importar."

Visitante frequente da Ásia (também é estudioso dos rituais hindus, budistas e sikhs), Bennett observa: "Quão deslocadas parecem as igrejas na Índia e no Bangladesh - é como se pertencessem a uma aldeia inglesa. Não foi feito qualquer esforço de adaptação ao contexto cultural. Talvel a construção de uma mesquita de estilo muito tradicional, com um minarete, seja uma forma de colonialismo ao contrário. As potências coloniais não pensaram duas vezes quando construíram igrejas de estilo europeu! No entanto, os suíços não podem ser acusados de ter um passado imperial!"

Voltemos ao que Iman Kurdi escreveu no Arab News: "Não são os muçulmanos moderados que vivem pacificamente na Suíça - ou em França, no Reino Unido ou na Alemanha - que inspiram medo, mas a influência dos extremistas e o potencial dos chamados "muçulmanos ocidentalizados" se tornarem nos terroristas vestidos de burqa e portadores de mísseis como os que aparecem nos cartazes suíços [a favor do não aos minaretes]", ressalvou Kurdi. "Se ouvirmos atentamente, a mensagem não é a de que os muçulmanos não são bem-vindos, mas a de que um perceptível movimento em direcção a uma forma mais radical de islão está a fazer soar o alerta."

Um castigo colectivo

Omid Safi, professor de Estudos Religiosos na Universidade da Carolina do Norte (EUA), especialista no misticismo sufi, reconhece, nas declarações ao PÚBLICO, que "os muçulmanos de todo o mundo devem, por respeito a si próprios e aos outros, escrutinar o modo como as minorias religiosas e étnicas são tratadas nos países de maioria islâmica - sem qualquer margem para dúvida."

"Concordo que na Arábia Saudita, no Paquistão ou no Afeganistão algumas minorias são tratadas de forma atroz; no entanto, é um erro raciocinar que entre dois males um deles é menor", comentou. "Primeiro, e acima de tudo, se todas as sociedades não procurarem os mais elevados padrões, onde é que vamos parar como comunidade humana?"

Quando inquirido sobre se a imagem que alguns países muçulmanos dão do islão não contribui para fomentar o medo, Omid Safi indigna-se: "Isso é assumir que os muçulmanos na Suíça estão envolvidos nas atrocidades que são cometidas na Arábia Saudita ou noutro país qualquer. Lembremo-nos de que a base fundamental de todas as tradições legais no Ocidente é a de cada um deve prestar contas pelos seus actos, não o castigo colectivo. Uma pessoa que comete um crime é responsável por esse crime. Não devemos culpar outros porque têm a mesma cor, etnia, religião ou nacionalidade."

Omid Safi dá um exemplo. "Um grupo de cristãos fanáticos queimou, por estes dias, uma mesquita na América. Devemos perseguir os cristãos suíços e responsabilizá-los pelo fanatismo dos correligionários do outro lado do mundo? É um absurdo quando se aplica a "nós", mas já se admite isso quando se aplica a minorias religiosas."

"A realidade é que quase todos os países europeus estão a atravessar uma crise de identidade, porque se tornaram sociedades de diversidade étnica, linguística e religiosa", conclui. "Esta diversidade não deve ser temida, mas celebrada. A única razão para sentir ansiedade é se tentarem impor um sentimento em que a identidade de uma nação é igual à raça, à religião e à etnia dos seus povos. Temos hoje uma escolha: se queremos ver-nos como membros iluminados da comunidade humana, isso acarreta consequências morais sérias."

Este é um recado para a Europa, mas será também essa a escolha dos países onde a diversidade continua a ser vista como uma ameaça, e a discriminação e a intolerância estão institucionalizadas?00,0%

Lor aut nostrud dolummo estis nonsequismod et.

Dui te tem auguerit augueros niat ing exero dolorerit incin utat in heniamconsed magna feum estionum nulputatie ming essenibh er sisi.Ipit lorpercipsum ea feuipit atSe queres viver bem, vive escondido, dizia Brigitte Bardot. Mas em alguns países islâmicos nem isso é garantia de sobrevivência.

Arábia saudita[A proibição dos minaretes na Suíça] é prova clara da segregação racial e religiosa que prevalece no Ocidente

Xeque Abdul Mohsen Al Shahri, juiz islâmico saudita

No reino que se proclama "guardião dos lugares sagrados de Meca e Medina", a liberdade religiosa não é protegida ou reconhecida por lei. Com 28,5 milhões de habitantes (dos quais 7 milhões a 10 milhões são estrangeiros), a Arábia Saudita é predominantemente muçulmana sunita (85 a 90 por cento). Os xiitas, entre 5 e 20 por cento da população, são discriminados e olhados com suspeição devido aos seus diferentes rituais. Outros grupos, como cristãos ou budistas, só têm direito a praticar a fé em privado e, mesmo em privado, são frequentemente, alvo de rusgas por parte da Comissão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício. Os muçulmanos que se converterem a outras religiões arriscam prisão perpétua ou morte.

EgiptoÉ um insulto aos sentimentos dos muçulmanos dentro e fora da Suíça

Ali Gomaa, Grande Mufti

O islão é a religião oficial e a Sharia a principal fonte de legislação do Egipto, país de 83 milhões de habitantes, dos quais cerca de 90 por cento são muçulmanos sunitas. Os xiitas representam menos de 1 por cento. Os cristãos serão 8 a 12 por cento (seis a 10 milhões), a maioria membros da Igreja Ortodoxa Copta. Os bahá"ís (sem reconhecimento legal) serão cerca de 2000 e os judeus aproximadamente 125. Embora a Constituição reconheça a liberdade de crença e prática religiosas, o governo limita-a e as forças de segurança chegam a instigar ataques sectários e a exercer represálias sobre queixosos. Há registos de sequestros, violações, conversões e casamentos forçados de meninas coptas. Há registos de ameaças de morte a bahá"ís. A construção ou restauro de lugares de culto não muçulmanos é quase impossível. Os muçulmanos que se converterem a outras religiões são perseguidos, detidos e privados de todos os documentos.

IrãoEste é um voto contra o prestígio de um país que afirma defender a democracia e os direitos humanos

Manouchehr Mottaki, Ministro dos Negócios Estrangeiros

Dos 70 milhões de habitantes do Irão, 98 por cento são muçulmanos - 89 por cento xiitas e 9 por cento sunitas. Haverá ainda entre dois milhões e cinco milhões de sufis. Os restantes 2 por cento são bahá"ís (a maior minoria religiosa - 300 mil a 350 mil), judeus, cristãos e zoroastras. Destas minorias, só aos bahá"ís, considerados "uma seita apóstata" porque veneram Bahá"u"lláh, profeta posterior a Maomé, é negada "protecção nos limites da lei" - os seus direitos cívicos são quase inexistentes. Para entrar numa universidade, por exemplo, os bahá"ís têm de renegar primeiro a sua fé, nascida na antiga Pérsia no século XIX; não podem herdar propriedades ou abrir contas bancárias; os seus casamentos e divórcios não são reconhecidos; as suas casas são alvo frequente de rusgas, os negócios são encerrados, os túmulos são profanados; os sete líderes da comunidade estão presos, há mais de um ano, sem julgamento. Anteriores dirigentes desapareceram ou foram assassinados.

Indonésia

É lamentável e demonstra falta de tolerância religiosa dos suíços

Hasyim Muzadi, líder da Nahdlatul Ulama, maior organização muçulmanaNa Indonésia, o Estado muçulmano mais populoso do mundo, 88 por cento dos seus 245 milhões de habitantes professam o islão sunita. Há ainda um milhão a três milhões de xiitas, uns 200 mil a 400 mil ahmadis (que se consideram muçulmanos, mas não são reconhecidos como tal, porque seguem outro profeta que não Maomé), cristãos, hindus, sikhs, budistas e judeus. Os ahmadis são os mais perseguidos, acusados de heresia. Os seus locais de culto, que o Governo proíbe de serem chamados de "mesquitas", têm sido atacados e queimados. Muitos fiéis têm sido mortos e feridos. M.S.L.
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