Qimonda Portugal passa a Nanium e é a única empresa da multinacional a escapar à falência

Detida pelo BES, BCP e Estado, empresa admite entrar em áreas como a dos produtos eléctricos e electrónicos e da prestação de serviços na área da engenharia ambiental

As mais de 20 empresas da multinacional alemã Qimonda AG foram à falência, à excepção da Qimonda Portugal, que vai continuar a existir com a denominação de Nanium. A escolha da marca não foi explicada, mas está em linha com a nanotecnologia, a capacidade de criar coisas a partir do mais pequeno, que tem tido resultados surpreendentes na produção de semicondutores e chips, uma área em que a empresa já trabalhava e onde pretende manter-se.

Sem surpresas, mas também sem euforia, a terceira assembleia de credores da Qimonda aprovou ontem a conclusão do processo judicial de insolvência, que correu no Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia.A nova empresa, que corta a ligação ao grupo alemão, passa a ser detida por três credores, o BES e o BCP, cada um com 41,06 por cento do capital, e o Estado Português, através da AICEP, com os restantes 17,88 por cento. Para além destes credores, que representavam mais de 90 por cento dos créditos reclamados, nenhum outro aceitou reconverter as dívidas em capital.

Depois da redução do capital social a zero, os três novos accionistas subscreveram proporcionalmente um aumento de capital de 15 milhões de euros, por conversão de créditos em capital, e aceitaram ainda converter parte dos seus créditos, no montante global de 15 milhões de euros, em prestações acessórias (sem direito a pagamento de juros).

À frente da administração da Nanium vão continuar Armando Tavares e Paulo Oliveira Queiroz, os homens fortes da ex-Qimonda Portugal. "Só tratei das questões burocráticas, da papelada. O mérito do desfecho deste processo é daqueles gestores, que são fantásticos", disse, no final da assembleia de credores, o administrador de insolvência, Armando Rocha Gonçalves, apontando para os dois administradores da empresa.

Novas áreas de negócio

Armando Tavares disse estar feliz com o desfecho do processo, mas recusou-se a adiantar pormenores sobre os planos que tem para a empresa. Há, no entanto, novas áreas em que a empresa vai entrar. O objecto social da sociedade foi alargado e para além da produção, montagem, teste e comercialização de produtos eléctricos e electrónicos, quer entrar na prestação de serviços de investigação e desenvolvimento de produtos eléctricos e electrónicos e na prestação de serviços laboratoriais, nas áreas química, eléctrica e mecânica, microscopia e metrologia, relativos a análises, ensaios e testes de materiais e produtos. A empresa inclui ainda a prestação de serviços de consultoria e certificação nas áreas da qualidade, da engenharia ambiental, gestão e manutenção de infra-estruturas.

A Nanium deverá começar a funcionar em pleno no início do ano e arranca com 230 trabalhadores, mantendo mais 140 em lay-off, bem longe dos dois mil que a empresa já teve. Nas últimas semanas foram despedidos perto de 500 trabalhadores, o que justifica que, ao contrário das duas primeiras assembleias, ontem foram poucos os que compareceram na sessão.

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