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Manuela Ferreira Leite admite directas no PSD depois da votação do orçamento

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Ferreira Leite diz que o PSD se credibilizou com a sua liderança daniel rocha

Estratégia da direcção passa por travar críticos e contestação. Pedro Passos Coelho fez um discurso duro de crítica à líder. E quis que a presidente esclarecesse se se recandidata ou não

Não foi uma despedida antecipada, mas quase. Manuela Ferreira Leite ofereceu ontem um jantar aos membros da sua comissão política. Foi antes do Conselho Nacional em que a líder do PSD admitiu abrir o processo para as eleições directas depois da votação do Orçamento do Estado de 2010, contrariando as opiniões de alguns dos seus mais directos colaboradores. Assim, ganha força o cenário de o PSD fazer as directas em Março, se o calendário de debate do Orçamento no Parlamento não for muito além de Janeiro. Estatutariamente, as eleições podem ser convocadas no prazo de mês e meio a dois meses e, para isso, é necessária a convocação de um novo Conselho Nacional.

Com esta estratégia, Manuela Ferreira Leite tenta "travar" a contestação interna, que clamou por uma clarificação, como fez, logo à entrada da reunião, Pedro Passos Coelho, único candidato assumido à liderança.

Na hora do balanço de mandato e das três eleições que o PSD disputou sob a sua liderança (perdeu as legislativas, ganhou as europeias e autárquicas), Ferreira Leite sublinhou que no último ano o partido se credibilizou, afirmando-se como alternativa.

Numa reunião do Conselho Nacional muito concorrida mas que começou com mais de meia hora de atraso, Pedro Passos Coelho foi um dos primeiros a intervir, em tom crítico, de acordo com relatos feitos ao PÚBLICO por vários conselheiros. E questionou a análise da presidente com a frase "o pior cego é o que não quer ver". Passos também questionou a líder a esclarecer se se recandidata ou não - algo que não ficou claro no discurso inicial da presidente do partido.

À entrada, Pedro Passos Coelho disse esperar que a reunião de ontem à noite fosse clarificadora e que "seja um momento alto na fase muito má que atravessamos".

Segundo dirigentes sociais-democratas, o Conselho Nacional prometia ser longo, face ao número de inscrições.

Sinais de estabilidadeOs primeiros sinais de estabilidade foram dados na frente parlamentar, resolvida, com uma votação esmagadora em Aguiar-Branco (ver caixa), o novo líder da bancada, que apresentou como um "referencial de estabilidade". Uma "coesão e unidade" que o vice-presidente de Ferreira Leite quer ver no partido até acabar a discussão do Orçamento de Estado, o que pode acontecer no final de Janeiro. Por outras palavras, o vice de Ferreira Leite quer adiar a discussão da liderança para depois do Orçamento.

"Haverá outros momentos e outros conselhos nacionais para tratar de outras matérias", afirmou aos jornalistas no Parlamento. O que o país precisa "é que o PSD esteja focalizado no exercício de uma alternativa e de uma oposição responsável" e para apresentar "alternativas melhores" do que as do PS.

Marcelo e Santana ausentesUm dia depois de ter ido ao programa dos Gato Fedorento, em que admitiu não querer ir "ao ringue" disputar a liderança, Marcelo Rebelo de Sousa pôs fim ao seu período de "ponderação". Depois de concluir que a sua proposta de uma "cimeira" com ex-líderes e "notáveis" para discutir uma solução de unidade "não tinha recebidofeedback". A vários amigos e colaboradores, o professor de Direito confessou ontem o seu desalento e tristeza pela falta de entusiasmo com que o partido recebeu a sua ideia.

Outro ex-líder e antigo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes também preferiu não ir à reunião, cumprindo a promessa de não se intrometer na refrega interna. Esteve Pedro Pinto, seu ex-vice-presidente, que já fora muito crítico na anterior reunião, em Julho, para aprovar a lista de deputados. Outro ausente foi Paulo Rangel, o eurodeputado do PSD que assumiu o direito à ponderação, como Marcelo Rebelo de Sousa.

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