Exposição em Versalhes para um rei

que estava apaixonado pelas artes

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Retrato de Luís XIV JACKY NAEGELEN/Reuters

É a primeira vez que o palácio onde o Rei-Sol instalou a corte de França evoca o seu patrono

O Palácio de Versalhes inaugurou ontem a exposiçãoLuís XIV: O Homem e o Rei, que reúne mais de 300 peças - incluindo pinturas, esculturas, jóias, tapeçarias, móveis e outros objectos -, muitas delas nunca antes expostas. No conjunto, traçam um retrato surpreendente daquele que a si próprio se chamou Rei-Sol, mostrando que o monarca absolutista foi também um requintado cultor das artes e das letras.

Jean-Jacques Aillagon, ex-ministro da Cultura e actual responsável da instituição, hoje convertida em museu, argumenta que "era uma anomalia e um paradoxo que o Palácio de Versalhes nunca tivesse dedicado uma exposição a Luís XIV", que está na origem da sua criação. Foi este monarca que transformou o modesto pavilhão de caça de Luís XIII, seu pai, no gigantesco e sumptuoso palácio que acolheu a corte de França e foi o centro de poder do Antigo Regime.

O interesse de Luís XIV (1638-1715) pelas artes obedecia a uma estratégia de construção de imagem, mas correspondia também a uma paixão genuína, herdada do seu padrinho, o poderoso cardeal Mazarino, que foi um dos maiores coleccionadores de arte do seu tempo. O gosto do rei desenvolveu-se também no contacto directo com alguns dos grandes criadores franceses da época, que integravam o seu círculo de amigos íntimos, como os pintores Charles Le Brun e Pierre Mignard, os arquitectos Louis Le Vau e Jules Hardouin-Mansart, o paisagista André Le Nôtre, o compositor Lully ou o dramaturgo Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière. Muitos deles, como Le Brun, Le Vau e Le Nôtre, estiveram directamente envolvidos na construção e decoração do Palácio de Versalhes.

Um rei envelhecido

Algumas das mais de 300 peças escolhidas para esta exposição, comissariada por Nicolas Milovanovic e Alexandre Maral, fazem parte do acervo de Versalhes, mas outras tinham saído há muito do palácio e foram agora emprestadas por museus e por coleccionadores privados, incluindo a própria Rainha de Inglaterra.

Para abrir o percurso, os comissários elegeram o conjunto escultóricoApolo e as ninfas, de Girardon e Regnaudin, que associa Luís XIV ao deus grego do sol, da luz e da beleza.

Entre as peças que representam o próprio Luís XIV, algumas das mais notáveis são o busto criado por Bernini em 1665, pelo qual o rei tinha uma especial predilecção, ou o retrato pintado em 1702 por Hyacinthe Rigaud, que mostra um monarca já envelhecido. Luís XIV encomendou-o para o oferecer ao seu neto Philippe d"Anjou (Filipe V de Espanha), mas gostou tanto do trabalho de Rigaud que resolveu conservá-lo.

A mais impressionante imagem do rei agora exposta em Versalhes talvez seja, no entanto, o retrato em cera colorida realizado por Antoine Benoist, quando o soberano teria cerca de 65 anos. Cumprindo os desejos do rei, que não apreciava que os seus retratistas tentassem rejuvenescê-lo, Benoist mostra-nos um Luís XIV mal barbeado e com o rosto sulcado pelas cicatrizes da varíola.

Outras peças a destacar sãoMercúrio carregando Psique para o Olimpo, um bronze de Adriaen de Vries, ou um magnífico tapete de nove metros de comprimento e 4,5m de largura, tecido a partir de um desenho de Charles Le Brun.

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