Ano zero na Amadora, para o Estrela e para António Veloso

Um clube à procura de uma "vida nova" e um treinador em busca de novos desafios. O objectivo é levar o Estrela da Amadora de volta à ribalta

a O Estrela da Amadora inicia hoje a participação na II Divisão, em casa, frente ao Lagoa, após uma época dramática em que não pagou qualquer mês de salário aos jogadores. O clube, que em campo conseguiu a manutenção, não se pôde inscrever nas competições profissionais por não cumprir os requisitos financeiros. Ao todo, foram 16 anos no principal escalão do futebol nacional, os últimos quatro consecutivos.António Veloso foi o homem escolhido para liderar a equipa nesta nova etapa, num projecto que pretende dar uma "vida nova no clube", diz o técnico, em declarações ao PÚBLICO. A proposta do Estrela surgiu numa altura em que estava livre, após ter sido campeão distrital de Lisboa com o Oeiras. "Subimos à terceira divisão mas acabei por não ficar porque não chegámos a acordo. Apareceu esta oportunidade e agarrei-a com unhas e dentes", confessa.
Na altura em que o convite foi feito "ainda havia alguma indecisão se o clube iria ficar na II Divisão ou mais para baixo". Nada que tenha feito António Veloso hesitar: "O Estrela não deixa de ser um desafio para mim, não pelos problemas, não é isso que está em causa, mas na medida em que treinar numa divisão acima é mais um passo na minha carreira". Quanto à situação financeira do clube, o treinador tinha conhecimento pelo que lia nos jornais e via na televisão. "A única coisa que não se resolve é a morte, o resto tudo se resolve", remata, pragmático.
"Nada de garantias"
A precária situação financeira do Estrela da Amadora ou a eventual repetição da situação do ano passado não preocupam António Veloso, tanto que nem fez parte das conversas com o presidente. "Foi-me proposta uma situação, eu aceitei. Nada mais foi questionado, nada de garantias. Uma situação normal. Sabemos que as coisas não estão muito fáceis em todos os clubes."
"O meu pensamento tem a ver com a equipa em si e com os objectivos que pretendemos alcançar. A questão mais preocupante para mim é pôr a equipa a funcionar porque tivemos que fazer uma equipa totalmente nova", frisa. Um processo que "deu muito trabalho": "Teve que se recorrer a empresários, vídeos, jogos de jogadores do sindicato. Fomos construindo o plantel a pouco e pouco."
A primeira conversa de António Veloso com os jogadores foi no sentido de lhes fazer ver que "há uma situação nova, que tudo vai mudar". "Com as minhas palavras os jogadores acabaram por acreditar que isso é possível e que é verdade. Até à data está tudo certo", diz.
Os objectivos para a temporada são claros: subir de divisão. "Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas acreditamos que é possível", assume. "Partimos de início com uma grande ambição, sabendo que temos de ter os pés assentes no chão, e que vamos lutar até à exaustão em cada jogo pelos três pontos".
Ao contrário de outras antigas glórias do Benfica, António Veloso (15 temporadas no clube, 658 jogos e sete anos como "capitão") não continua ligado ao emblema da Luz. Em Dezembro de 2001 deixou o Atlético para ser adjunto de Toni na equipa principal e no ano seguinte orientou a equipa B "encarnada", tendo a ligação terminado no fim da época 2002-03. "Não é uma coisa que me preocupe. Como qualquer pessoa, gostava de lá estar, mas não depende só de mim", reconhece.
Em 2003 apoiou Guerra Madaleno nas eleições para o Benfica e já este ano esteve com o movimento Vencer Vencer. "Quando tomo partido por A ou B nunca é contra ninguém, é porque quero que o Benfica seja melhor, só isso. Posso apoiar quem eu quiser, sou livre", vinca ainda António Veloso.
"Penso que tem feito um bom trabalho", diz sobre Luís Filipe Vieira. "Conseguiu que o Benfica fosse outra vez respeitado. Hoje é um clube estável, embora se tenha exagerado aqui e acolá em contratações e treinadores sem currículo. O Benfica não pode cair nesse erro, mas ninguém é perfeito", conclui.

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