Ana Vidigal

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Ana Vidigal é uma das mais influentes artistas plásticas da sua geração. Foi bolseira da Gulbenkian, ganhou em 2003 o Prémio Amadeo Souza-Cardoso e criou diversos painéis para as estações do metro de Lisboa.

Há muitas casas. Grandes, soberbamente decoradas. Divertidas. Excêntricas. Esta casa não é nada disto. É muito mais. Não é pelo seu tamanho, nem pelo fantástico projecto arquitectónico de recuperação, nem sequer pela decoração. É por tudo. É a conjunção de vários factores: topografia, localização, arquitectura e o toque de quem a habita. Neste caso Ana Vidigal.O edifício onde fica a casa da artista plástica era uma escola, que foi dividido e transformado em apartamentos. O projecto de recuperação deste imóvel pré-pombalino num típico bairro lisboeta (Alfama) é de dois arquitectos irmãos de Ana Vidigal: Egas José Vieira e Nuno Vidigal. "Ao contrário do que se diz... aqui os santos da casa fizeram milagres. Falando a sério, gosto muito dos meus irmãos."
Foram dois longos anos de obras na reformulação deste imóvel que originalmente não tinha sido construído para habitar. "Nem me falem em obras nas próximas décadas! Conseguem imaginar arquitectos com 'rédea solta'? Pelo menos as paredes mestras continuam no mesmo sítio!" O resultado é um casamento perfeito do antigo com o contemporâneo. Ombreiras centenárias, de pedra maciça que contrastam com gigantes portas rasgadas lacadas de azul. Ferragens modernas de aço contrastam com azulejos antigos de todos os géneros e feitios, mas todos aproveitados na recuperação da casa.
Com a excepção das zonas de trabalho, que são enormes, como seria de esperar pelas proporções do trabalho mais recente desta artista, todas as outras divisões são de tamanho normal. Sem exageros. O fascínio desta casa está nos detalhes. Os tectos são todos trabalhados, com aquilo que poderia ser uma versão moderna da abóbada, os pormenores de iluminação, pontos de luz que aparecem de forma inesperada e que dão uma nova vida à divisão.
Tudo é vestido de uma enorme simplicidade, havendo no entanto espaço para sofisticação e para pequenos apontamentos kitsch. Desde uma colecção de pássaros de plástico a balões do filme de animação Kung Fu Panda.
E depois há a colecção de arte. Que foi construída, num misto de trocas entre colegas e a compra de algumas peças. "Só compro aquilo que gostava de ter criado", refere. Uma coisa é certa, as paredes estão cheias. Da Lurdes Castro, passando pelo Vasco Araújo, Alexandra Mesquita, Fátima Mendonça e muito mais. Absolutamente fascinante e sem dúvida uma das razões pela qual a casa se torna tão especial. Ana Vidigal faz uma mistura feliz da sua arte com a arte dos outros. É verdadeiramente uma casa, que também funciona como local de trabalho. E o que é que não pode faltar numa casa? Ana Vidigal responde com humor. "Tenho um azulejo muito antigo que diz: 'Uma casa não se quer grande para ser igual ao ninho.' Palhinhas?" a

marianagsousa@sapo.pt

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