Amundsen O explorador perdido no Árctico

Foi o primeiro a chegar ao Pólo Sul, mas era o Norte que amava. Foi aí que o avião do explorador norueguês caiu há mais de 80 anos. Mas onde?

a Esta é a história de um desaparecimento nos mares do Norte. E o novo capítulo desta história com mais de 80 anos pode muito bem ser o seu epílogo. Roald Amundsen foi o primeiro a chegar ao Pólo Sul. Mas ainda ninguém conseguiu chegar ao local onde morreu. Aliás, ninguém sabe exactamente onde e por que razão o seu avião se terá despenhado no oceano Árctico em 1929. Mas o fim estará próximo. Uma equipa internacional multidisciplinar munida de um submarino comandado à distância, o Hugin 1000, planeia passar em revista o fundo do frio mar de Barents em busca dos destroços do avião. "É um dos mistérios ainda por resolver dos nossos tempos", diz a Marinha Real Norueguesa em comunicado.
Aos 55 anos, Amundsen seguia a bordo de um hidroavião francês Latham 47, feito de madeira e aço, quando o aparelho se despenhou. O norueguês estava integrado numa equipa de buscas internacional que procurava outro explorador - o italiano Umberto Nobile, cujo avião se tinha despenhado no Círculo Polar Árctico durante uma violenta tempestade. Nobile, aliás, era um rival de Amundsen. Regressava do Pólo Norte quando, com outros sobreviventes, acabou à deriva numa placa de gelo no Árctico.
Sabe-se que Amundsen embarcou com cinco pilotos da Força Aérea francesa a 18 de Junho em Tromso, na Noruega continental e já bem dentro do círculo árctico. Às 18h45, ainda se ouviu uma mensagem via rádio do hidroavião. Depois disso, o seu paradeiro é desconhecido.
As circunstâncias da queda do avião são uma incógnita e estima-se apenas que o Latham se tenha despenhado a noroeste da ilha do Urso (Bjørnøya, assim chamada por ser visitada pelos ursos polares durante os gelos do Inverno) no arquipélago norueguês de Svalbard.
Taciturno e justo
Amundsen, um explorador mítico pela coragem e desportivismo, realizou inúmeras viagens pioneiras. Em 1905, aos 31 anos, foi o primeiro a navegar a passagem do Noroeste, a rota marítima que atravessa o Árctico, a linha costeira norte da América do Norte e que liga o Atlântico ao Pacífico. Demorou três anos a completar a travessia, com longas períodos à espera que o gelo derretesse o suficiente para deixar passar o navio pesqueiro em que viajava. E foi o primeiro a chegar ao Pólo Sul.
Descrito pelos seus colaboradores como um homem taciturno mas justo, era também um exímio gestor de recursos. Com o mesmo cuidado com que escolheu a equipa de exploradores que o acompanharia ao Pólo Sul, Amundsen escolheu os cães que puxariam os trenós. Eram os seus "meninos" e considerava-os a peça mais importante da expedição. A sua missão esteve envolta em segredo, mesmo para o Governo norueguês, até meio da viagem.
Amundsen partia na sequência do falhanço do britânico Ernest Shackleton, que teve de abandonar o seu périplo a meros 150 quilómetros do destino. O norueguês teve sorte com o tempo, ultrapassou o ponto atingido por Shackleton e, a 14 de Dezembro de 1911, cerca das 15h00, espetou a bandeira norueguesa no Pólo Sul, baptizando-o como Polheim. Noventa e nove dias depois, a sua equipa estava na base e pronta para regressar à Noruega.
Na mesma altura, o britânico Robert Scott, que partiu para o Pólo Sul apenas três semanas depois de Amundsen, não teria tanta sorte. Atingiu o pólo, mas o mau tempo seria fatal para si e para a sua equipa. Hoje, ambos são homenageados nas estações construídas no pólo baptizadas em sua honra. Para Scott, cujos registos de viagem sobreviveriam à intempérie, o Pólo Sul era "um lugar horrível".
A viagem, descrita como a pior do mundo, terá tido um sabor agridoce para Amundsen. Só terá rumado a sul porque os norte-americanos Robert Peary e Frederick Cook já tinham reclamado o seu objectivo maior: o Pólo Norte. Mais tarde terá dito: "Nenhum homem alguma vez esteve no local diametralmente oposto ao alvo dos seus verdadeiros desejos", recorda a revista Wired.
Desde muito jovem, Amundsen queria ser explorador polar. Ainda menino, insistia em dormir com as janelas abertas no Inverno para se habituar às temperaturas. Tudo para se tornar uma criatura dos gelos. Era no hemisfério Norte que o gelo mais o atraía. Sobre o Árctico, dizia a um jornalista em 1929: "Se soubessem quão esplêndido é aquilo lá em cima... É ali que quero morrer". E assim seria.
Como uma operação militar
Agora, e cinco anos após a última tentativa de encontrar os destroços do avião, abortada devido ao mau tempo, há uma nova expedição que envolve o Museu de Aviação norueguês, o canal alemão Context TV, a empresa norueguesa Maritime Kongsberg (que criou o submarino Hugin) e a Marinha Real da Noruega, contando com o apoio da família Amundsen. A iniciativa partiu do Museu de Aviação, que nunca abandonou a causa Amundsen, e cujo responsável, Per Arvid Tellermann, se congratula pelo facto de o seu "sonho histórico" estar prestes a concretizar-se.
"Queremos encontrar o avião e ajudar a solucionar o mistério. Isto será conduzido como uma operação militar", disse o comandante Frode Loeseth, da Marinha Norueguesa ao jornal The National. A caminho do mar de Barents seguirão dois navios, um dos quais o draga-minas Tyr, que operará o submarino Hugin a 400 metros de profundidade (o Hugin pode trabalhar 18 horas por dia).
O objectivo é pôr o sonar do submarino, um HISAS 1030 de abertura sintética e de grande precisão (uma resolução de cinco centímetros, disse Bjorn Jalving, da Kongsberg Maritime, ao Der Spiegel) em busca dos motores ou outras peças de grande dimensão que possam estar ainda no leito marítimo. "Os seus sistemas de navegação muito avançados compensam o facto de o GPS não funcionar debaixo de água. Por isso, se o avião for encontrado, a sua posição será conhecida", explica Jalving. A busca decorrerá numa área de 114 quilómetros quadrados.
Há 81 anos, pouco depois da queda do avião que transportava os seis homens, apenas um dos flutuadores do hidroavião e parte de uma asa foram recuperados no local.

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