Adelaide Ginga

A presença masculina tem sido um factor importante na minha vida. Cresci com a presença importante do meu pai. Os namorados, em geral, foram experiências positivas. Estive 12 anos casada com o pai dos meus filhos, uma pessoa extraordinária. Entretanto, tive um "encontro imediato" daqueles que não há hipótese de contornar e hoje vivo uma nova fase, mais uma vez, devido ao factor Homem. Tive uma infância feliz, na qual o meu pai foi determinante. Embora a relação com a minha mãe tenha sido mais próxima e com maior abertura e cumplicidade, quando recordo o que vivi com o meu pai e o que ele fez por mim, sem dúvida de que a palavra que se impõe é a de "amigo". Exercia autoridade mas foi sempre muito meu amigo. Quando chegava a casa do trabalho, brincava comigo às escondidas. O jantar era sempre especial, em família. Gostava de partilhar os livros que lia, falar da actualidade, recordar as suas vivências com a devida contextualização histórica - tive bons professores de História, mas acho que ele foi a maior influência para seguir esta área. Estava sempre a organizar passeios e atento aos espectáculos. Conheci grande parte de Portugal com os meus pais, em passeios que incluíam os monumentos locais. Íamos à ópera, ao teatro, aos museus. O meu pai começou a trabalhar cedo e interrompeu os estudos mas sempre se cultivou. Transmitiu-me muita informação e o gosto pelos livros que me oferecia com dedicatórias. Foi ele que me inscreveu na faculdade, tratou de tudo. Com ele aprendi imenso e dele vem o meu gosto pela cultura e por viagens.
Na adolescência foi mais complicado, porque saio a ele, estou sempre no "ir". Tenho dois irmãos, bastante mais velhos e o que viveu mais comigo era muito caseiro. Comecei a namorar cedo e a querer sair, e não tinha "antecedentes" em casa a ajudar. Foi uma dor de cabeça, o meu pai não deixava. Tivemos alguns conflitos, a visão dele é tradicional em relação às mulheres e eu achava-o retrógrado. Isso teve influência na minha maneira de ser dentro de uma relação a dois. Não concebo que não haja respeito absoluto e igualdade de direitos entre homens e mulheres. Quando há cedências, têm de funcionar para ambos.
Na versão tradicional, gosto de um homem cavalheiro, bem-educado, delicado, cuidadoso. Gosto do mimo que é fruto da sensibilidade, da capacidade de estar atento às pequenas coisas, mas também dos pequenos gestos.
No capítulo de partilhar a vida, é fundamental que seja inteligente e culto. Com quem possa conversar e discutir sobre. Que tenha uma personalidade forte, mas aceite uma opinião diferente e saiba reconhecer os erros. Que tenha honestidade intelectual.
Atrai-me um homem com espírito de aventura e com gosto pela cultura. Que goste de viajar, conhecer novas coisas, andar horas a pé, aguentar numa fila para ver uma exposição, que se emocione a ver uma obra de arte ou um espectáculo. Experimentar, aceitar novos desafios, é palavra de ordem. Não suportaria alguém que goste de ir sempre aos mesmos sítios, que seja formatado nos gostos e picuinhas na forma. E aí é determinante a simpatia, a humildade perante outras culturas, a humanidade e a capacidade de ajudar os outros quando é ocasião. Detesto a arrogância, o snobismo, o egoísmo e o convencimento de superioridade perante a diferença.
Não gosto do homem engravatado, formatado. A única coisa interessante da gravata é tirá-la e desabotoar a camisa para ver o pescoço, uma das partes mais interessantes do homem. Pescoço e mãos... são reveladores. Ombros e pernas têm de ser bem constituídos. Um homem com "canetas" é um desalento. Já para não falar de barriga. As letras "X" e "Y" que cientificamente nos distinguem são simbólicas na imagem. O X é uma encruzilhada e as mulheres são seres mais complexos, emocionalmente mais difíceis de perceber, dizem uma coisa quando querem outra, ou deixam na versão "subentendida" e esperam que o homem perceba, o que raramente acontece, e aí ficam irritadas e desiludidas. Quando explicamos no que falharam ficam ainda mais confusos! Os homens têm mais dificuldade de dar atenção e realizar várias coisas ao mesmo tempo. Gostam de assumir um comando e levá-lo directo até ao fim. As mulheres assumem o objectivo mas vão atendendo aos pormenores, conseguem dispersar-se de forma concentrada e fazer outras coisas pelo meio. Daí, a dificuldade de timing nas compras, nas arrumações e noutras coisas... Tenho na agenda uma frase de Nietzsche: "As mesmas paixões no homem e na mulher são diferentes no seu ritmo e é por isso que o homem e a mulher jamais deixam de se desentender."
Os homens são indispensáveis à vida! Sem eles o mundo não tinha graça nenhuma. Uma amiga minha desabafava há dias: "Conheci um tipo tão giro, ficámos à conversa e adorei. Achei-o um homem 'a sério'. Ao fim da noite percebi que era gay. Isto está insuportável..." Não tenho nada contra a homossexualidade, a única questão preocupante é, como diz a minha amiga, "o delapidar do património". a

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A partir de uma conversa com a curadora

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