Djalmir, de cabo no Nordeste brasileiro a artilheiro na Liga de Honra

a Conciliava a tropa com a carreira futebolística no Sergipe, no Nordeste brasileiro, onde se tornou profissional ainda com 17 anos, depois de aí ter feito a sua formação. "Ser militar influencia a nossa vida. Viver num quartel onde se tem de respeitar o superior e ser responsável. Sou a pessoa que sou devido ao quartel." No actual plantel do Olhanense, ao princípio ninguém acreditou quando Djalmir disse ter cumprido serviço militar durante vários anos. A começar pelo capitão de equipa, Rui Duarte. "A primeira coisa que fiz quando ele me disse isso foi rir, nunca acreditei. Só mesmo vendo as fotos que ele depois me mostrou." Wilson, ex-jogador do Belenenses e antigo colega de Djalmir na equipa do Restelo, desconhecia a faceta militar do artilheiro. "Destaco-lhe um grande carácter e simplicidade. Tinha uma convivência saudável."
A vontade de seguir uma carreira no futebol quando via os seus ídolos pela televisão levou-o, aos 23 anos, a fazer uma escolha delicada. "Era cabo na tropa e era a minha profissão, tinha aquilo como a minha vida e foi um risco sair de lá." O tempo deu-lhe razão e o sucesso no desporto-rei não tardou. Após uma época proveitosa no Cascavel, Djalmir atravessou o Atlântico para jogar no Famalicão. Decorria o ano de 2000 e o jogador estava num mundo desconhecido. "Nunca pensei sair do Brasil, onde apenas tinha ido ao Rio de Janeiro. Ia sair do meu país com 23 anos, sozinho e com pouca experiência. Mas acreditei e vim para Portugal."

Capítulo I: Famalicão Como a grande maioria dos jogadores brasileiros que vêm para Portugal, Djalmir sentiu na pele o choque térmico de quem estava habituado ao clima da sua cidade natal, Aracaju - capital do estado de Sergipe. "Quando fui para Famalicão senti logo frio, uma temperatura diferente da minha cidade. Ainda por cima era no Norte do país". O clima frio do Norte contrastou com o calor do acolhimento. "Passei ano e meio em Famalicão e como a cidade é pequena as pessoas são mais acolhedoras, conversam mais e deixam-nos à vontade".
O ambiente de Famalicão foi descoberto novamente uns anos mais tarde. "Vim encontrar isso aqui em Olhão e também em Santa Maria da Feira, cidades pequenas onde as pessoas acolhem bem e dão tudo quando gostam de nós. Aqui em Olhão vêem--me na rua e perguntam-me se é para subir de divisão".
A meio da época 2001-2002, Djalmir transfere-se para o Belenenses, para pisar, pela primeira vez, os relvados da I Divisão. Wilson recorda o momento decisivo em que Djalmir ganhou o bilhete premiado para jogar no Restelo. "Num jogo para a Taça de Portugal, o Belenenses, onde eu já jogava, defrontou o Famalicão e foi eliminado por 3-2. Dos três golos do Famalicão, dois foram do Djalmir."
Mas as coisas não correram como era desejado. "Em Lisboa, o percurso foi mais complicado, pois jogava pouco", refere Djalmir. "Gostava da cidade, mas não há aquela ligação como numa cidade pequena. No Norte, se for preciso, as pessoas abrem a porta da sua casa."
Actualmente com 32 anos e a realizar a sua terceira época no Olhanense e com 20 golos marcados esta temporada, Djalmir tem na mobilidade um dos pontos fortes. "Finalizo com os dois pés, mas o mais forte é o jogo aéreo. Sempre fui ponta-de-lança, mas também posso jogar atrás do avançado, como fiz no Salgueiros." O ex-técnico do Benfica Álvaro Magalhães acrescenta-lhe outro ponto forte. "Pela inteligência que demonstra, é um tipo de jogador que já não existe. Tem um sentido de oportunidade fantástico."

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