O militar que evitou "um banho de sangue"

a O presidente da Câmara de Barrancos, António Tereno, destaca os condicionalismos "terríveis" em que ocorreram os acontecimentos que mobilizaram os barranquenhos, apesar de colocados entre a ameaça de invasão das tropas de Franco e a polícia política de Salazar. O livro Barrancos na encruzilhada da Guerra Civil de Espanha, da antropóloga Maria Dulce Antunes Simões, insere o depoimento de Gentil de Valadares, filho do tenente Augusto Seixas. O chefe da guarda fiscal em Barrancos viu-se confrontado com os propósitos sinistros dos franquistas comandados pelo general Yagüe, que queriam liquidar centenas de refugiados "num banho de sangue na nossa própria fronteira", confidenciou ao filho o tenente Seixas. As indicações de Lisboa eram para reconduzir os espanhóis ao seu país, recusando-se o Governo de Salazar a enviar comida e medicamentos. O tenente Seixas sugeriu então que se abrisse uma subscrição em Barrancos para angariar alimentos. "Os ricos deram menos que os pobres", recorda Gentil de Valadares. Os "ricos" justificaram a baixa contribuição alegando que os refugiados "eram comunistas".
As autoridades do outro lado da fronteira apresentaram os nomes dos condenados à morte. O tenente Seixas, apoiado pelos barranquenhos, não permitiu que alguém fosse preso ou entregue. Por ter ousado salvar os refugiados, contrariando as ordens de Salazar, foi punido com dois meses de inactividade e a passagem à situação de reforma. Os refugiados das herdades da Coitadinha e Russianas foram, meses depois, repatriados para Tarragona, então sob controlo dos republicanos, no vapor Niassa, a 9 de Outubro de 1936. Na sua esmagadora maioria emigraram depois para França.
Os habitantes mais ricos de Barrancos foram os que menos contribuiram para apoiar os refugiados espanhóis.

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