Rússia suspendeu instalação de mísseis Iskander em Kaliningrado

O gesto, acolhido a ocidente como "positivo", estende um ramo de oliveira aos Estados Unidos. Mas Moscovo já deixou claro que espera retribuição

a Moscovo deu ontem sinal de que o plano de instalação de sistemas tácticos de mísseis Iskander no enclave russo de Kaliningrado, que faz fronteira com a Polónia, entrou numa moratória de conciliação. É o primeiro gesto claro de ramo de oliveira a ser estendido pela Rússia aos Estados Unidos, após a tomada de posse do novo Presidente norte-americano, Barack Obama.A revelação foi feita em duas frentes, com uma fonte do Ministério da Defesa russo, citada mas não identificada pela agência RIA Novosti, a garantir que até à data "não foram tomadas quaisquer medidas práticas para pôr os Iskander na zona mais ocidental do país".
Em simultâneo, a agência Interfax citava um responsável militar russo, igualmente não identificado, a explicar a actual linha de pensamento do Kremlin: "A execução destes planos foi suspensa, uma vez que a nova Administração norte-americana não acelerou o seu programa de instalação [de partes do sistema de defesa antimíssil norte-americano na Polónia e República Checa]".
Do Kremlin, nada de confirmação nem desmentido oficiais. Apenas uma resposta vaga, a um pedido de reacção feito pela Reuters: "A nossa posição permanece inalterada. Dissemos sempre que não seríamos os primeiros a avançar com mísseis e estamos a observar os sinais vindos dos Estados Unidos".
No início de Novembro, logo após o anúncio da vitória eleitoral de Obama, a querela entre Rússia e Estados Unidos sobre os avanços militares de ambas as partes na Europa Central recebera novo ímpeto com o Presidente russo, Dmitri Medvedev, a anunciar que iria "muito em breve" enviar sistemas tácticos Iskander para Kaliningrado - uma pequena fatia de antigo território germânico, ensanduichado entre a Polónia e a Lituânia, anexado pela União Soviética em 1945.
Com aquela localização, os Iskander - de elevada precisão e curto alcance - podem atingir toda a Polónia e partes da República Checa e da Alemanha. O director do think tank moscovita Centro de Análise Militar, Anatoli Tsiganok, descreveu-os então como "a melhor solução do ponto de vista económico e militar" para cumprir o desejo de Medvedev: "neutralizar" os elementos do escudo norte-americano projectados para a Polónia (dez mísseis interceptores) e República Checa (um radar de detecção).
A intenção agora revelada de suspender os Iskander em Kaliningrado foi recebida com cautela a ocidente. "Se for verdade, será, claro, um passo muito positivo", avaliou o porta-voz do embaixador dos Estados Unidos na NATO, Kurt Volker, citado pela Reuters.
Num primeiro olhar os analistas notam que a decisão deve ser interpretada como um "gesto da boa vontade de Moscovo para Obama". "Mas é esperado, em resposta, que o escudo antimíssil não seja posto na Europa Central", afirmou à Reuters o analista Ievgeni Volk, do think thank moscovita Heritage Foundation
Medvedev conversou com o novo Presidente norte-americano na passada segunda-feira, em telefonema feito de Washington para Moscovo. Os dois líderes irão encontrar-se, pela primeira vez, face a face durante a reunião do G20, de 2 de Abril próximo, em Londres.

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