Mark Felt, o misterioso Garganta Funda, morre aos 95 anos

Foi fundamental na investigação que ajudou a derrubar o Presidente Nixon. Só há três anos divulgou o seu envolvimento

a Morreu Mark Felt, o antigo "número dois" do FBI que nos anos 70 foi a fonte confidencial da dupla de repórteres do jornal The Washington Post que expôs o escândalo Watergate, ajudando a derrubar a Administração de Richard Nixon - e tornando-se uma das figuras mais míticas do jornalismo de investigação norte-americano sob a designação Garganta Funda, um nome que, aliás, detestava.Apesar do carácter romântico e do estatuto que adquiriu por causa da intransigência em manter-se no anonimato, Felt não foi a principal fonte da investigação da conspiração governamental que afundou muitos dos colaboradores mais próximos de Nixon e culminou com a resignação do Presidente.
Mas, como explicaram Bob Woodward e Carl Bernstein, os dois jornalistas do Post que sempre respeitaram o compromisso de não divulgar a sua identidade, foi fundamental na sua investigação, ao orientar o seu trabalho e confirmar informação recolhida junto de centenas de outras fontes. "Era ele que nos encorajava", comentou Bernstein, que só conheceu Felt pessoalmente no ano passado.
Era Woodward, que conhecera Felt casualmente quando não era ainda jornalista, quem se reunia com o director do FBI na clandestinidade, em parques de estacionamento dos subúrbios de Washington, para discutir a investigação. Esses encontros foram depois celebrizados no filme Os Homens do Presidente: Garganta Funda emergia da sombra, na sua habitual gabardina e envolto numa nuvem de fumo de cigarro, instando o jornalista a "seguir o dinheiro" (uma frase que, na realidade, Felt nunca proferiu).
Felt alimentou o segredo sobre o seu papel no caso Watergate durante 30 anos, desmentindo várias vezes - uma das quais, sob juramento perante um Grande Júri - ter qualquer responsabilidade na fuga de informação do FBI para o jornalista do Post. Nixon e os seus conselheiros desconfiavam dele e por cinco vezes o Presidente ordenou o seu despedimento. Os desmentidos de Felt e a sua reputação no interior da agência (era um lealista de Hoover) valeram-lhe a manutenção do seu posto.

A revelação em 2005Felt ingressou no FBI em 1942, tendo trabalhado em espionagem de guerra (capturou um espião alemão nos Estados Unidos), no departamento que lida com roubos de bancos e ainda nas brigadas internas que velavam pelo respeito do código de conduta do FBI, que defendia vigorosamente.
Em 2005, depois de ter sofrido dois acidentes vasculares e ter sido diagnosticado com demência, Felt instruiu o seu advogado a divulgar o seu envolvimento com a investigação de Woodward e Bernstein. "Aquele a quem chamam Garganta Funda sou eu", escreveu num artigo publicado na revista Vanity Fair. Bob Woodward confirmou a veracidade da revelação e, como era seu desejo, Felt deixou de ser conhecido pelo título de um filme pornográfico.
Apesar de ser celebrado como um homem de princípios e coragem pelo seu papel de denúncia no escândalo Watergate, Mark Felt foi responsável por escutas e buscas ilegais a familiares e associados dos elementos do grupo radical Weather Underground que não tinham qualquer relação com as actividades criminosas daquela organização (foi condenado em 1980 mas recebeu um perdão presidencial).
Nessa altura já estava retirado do FBI e tinha-se mudado para a Califórnia, desiludido por ser preterido por duas vezes consecutivas na promoção a director daquela agência.

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