Dias tenebrosos

Perto de um milhão de mortos em cem dias

O genocídio ruandês de 1994 vitimou entre 800.000 a um milhão de pessoas, entre Abril e Julho. Começou a partir da morte do Presidente Juvénal Habyarimana, quando o seu avião regressava a Kigali, de uma deslocação ao estrangeiro, tendo sido atingido por um disparo.A chacina foi essencialmente obra das milícias hutus Interahamwe e Impuzamugambi, bem como do Exército, se bem que do outro lado do conflito que então se vivia também possam ser imputadas culpas à Frente Patriótica Ruandesa (FPR), que mantinha uma guerrilha e acabaria por alcançar o poder e levar à chefia do Estado o seu principal comandante, Paul Kagamé.
O genocídio foi a fase mais aguda de uma guerra civil que o regime hutu de Habyarimana, apoiado pela França e por países africanos francófonos, travou contra os rebeldes da FPR, formada no exílio pela comunidade tutsi exilada e que contava com o apoio do Uganda.
Muitos dos militares e milicianos hutus que acabaram por ser derrotados, depois de terem protagonizado o genocídio, conseguiram refugiar-se no estrangeiro, em especial no então Zaire, hoje República Democrática do Congo (RDC), sendo uma das causas das sucessivas guerras que entretanto aí se têm verificado e originado milhões de mortes. Não só devido aos combates mas, sobretudo, à fome e às doenças a elas associadas.
O mais recente destes conflitos é o protagonizado no Leste do país pelo general tutsi Laurent Nkunda, que diz querer escorraçar dali as milícias hutus.
O antigo primeiro-ministro ruandês Jean Kambanda revelou já, no Tribunal Penal Internacional para o Ruanda (TPIR), que o projecto de genocídio fora abertamente discutido em Conselho de Ministros e que uma das pessoas presentes chegara a dizer ser pessoalmente a favor de que "se livrassem de todos os tutsis", a camada minoritária da população, tradicionalmente dedicada à criação de gado.
Os hutus, que constituem mais de 80 por cento de todos os ruandeses, têm vivido ao longo dos séculos do cultivo da terra, considerando-se como que uma plebe explorada pela aristocracia tutsi, que muitas vezes ao longo dos anos ocupou os principais lugares no Exército e na administração. J.H.

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