Torne-se perito

Milú, "primeira vedeta do cinema português", morreu aos 82 anos

A sua beleza e a voz doce da "menina da rádio" ficam eternizadas sobretudo
em O Costa do Castelo
e O Leão da Estrela

a Foi a Luisinha em O Costa do Castelo (1943), a Juju em O Leão da Estrela (1947), a Ana Maria em O Grande Elias (1950). Milú, actriz de ar doce e cândido, presença perene no imaginário do cinema português, morreu ontem em Cascais, na sequência de uma infecção respiratória. Tinha 82 anos. A dimensão popular que granjeou sobretudo nas décadas de 40 e 50 cruzou várias gerações. No ano passado, foi condecorada com a Ordem de Sant'Iago da Espada pelo Presidente da República, Cavaco Silva. Mas esta "figura solar" foi es-
quecida pelo país, disse ontem o realizador António-Pedro Vasconcelos, autor do documentário Milú: A Menina da Rádio (2007). À agência Lusa, recordou que Milú foi "a primeira grande vedeta" do cinema português, lamentando a "ingratidão" do país "com as pessoas que foram importantes".
Milú, nome artístico de Maria de Lurdes de Almeida Lemos, nasceu em Lisboa em Abril de 1926. Aos 10 anos estreou-se na rádio, onde cantava; dois anos depois fez a sua primeira aparição no grande ecrã, ao lado de Beatriz Costa, no filme Aldeia da Roupa Branca, realizado por Chianca de Garcia em 1939.
Foi, contudo, em O Costa do Castelo, de Arthur Andrade, no qual interpretava a Luisinha e contracenava com António Silva, Maria Matos e Curado Ribeiro, que Milú ganhou notoriedade. Foi nesta película que cantou os célebres temas Cantiga da Rua e A Minha Casinha, este último redescoberto, anos mais tarde, pelos Xutos & Pontapés numa versão rock. A canção fechou concertos da banda nos tempos do Rock Rendez-Vous, nos anos 80, e alcançou um tal êxito que o grupo incluiu-a no disco 7 Single. No último concerto dos Xutos no Coliseu de Lisboa, a actriz estava entre a assistência e foi ovacionada pelo público.
Paralelamente à carreira no cinema e no teatro de revista, Milú prosseguiu na música e ainda em 2007 participou num dueto com Patrícia Vasconcelos, registado no álbum Se o Amor Fosse Só Isso.
Depois de O Costa do Castelo, a actriz ganhou renome nacional e fez muitas capas da imprensa escrita. Nos anos 40 e 50, foi a "namoradinha" de Portugal. Quando casou pela primeira vez, em 1943 (teve um segundo casamento em 1960, na sequência do qual foi viver para o Brasil, até 1968) conta-se que Lisboa inteira quis ver de perto a noiva e rumou até à Igreja de São Sebastião da Pedreira, onde se realizou a cerimónia.
Quando regressou ao cinema (participou também num filme espanhol) obteve mais êxitos: O Leão da Estrela, O Grande Elias (1950), Vidas Sem Rumo (1956) e Kilas, o Mau da Fita (1981), o último filme em que participou, sob a direcção de José Fonseca e Costa. O funeral de Milú realiza-se esta tarde, às 16h, no Cemitério de São João do Estoril.

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