Axelrod, o homem que criou o slogan Yes We Can

O chefe da estratégia de Barack Obama é visto como especialista
em vender candidatos negros
a eleitores brancos

a Parece politicamente incorrecto, mas uma das primeiras coisas que salta à vista em David Axelrod é o seu aspecto. Não são só as fotos em que aparece com um blusão de cabedal, não é só o bigode. É também, como notou a revista Economist, um certo ar tristonho. Um ar tristonho que aparentemente é contraditório com a mensagem de optimismo e esperança - foi ele que cunhou o slogan Yes We Can, primeiro para outro político negro, depois para Barack Obama, que, diz-se, abraçou estas palavras com relutância.David Axelrod, 52 anos, casado e com três filhos, antigo jornalista no jornal Chicago Tribune, é o "chefe da estratégia" da campanha de Barack Obama. Na campanha encurtaram o seu nome para "The Ax", o machado.
Ainda a Economist: uma das especialidades de Axelrod é "embrulhar candidatos negros para eleitores brancos". Quanto aos slogans, Axelrod diz que não está a aplicar uma fórmula aos políticos para que trabalha: "Não sou eu que levo estas mensagens para os candidatos", garantia, num artigo na revista The Nation, quando questionado sobre as semelhanças entre as campanhas de Deval Patrick e de Obama e o slogan Yes We Can. "Eu procuro candidatos que exemplifiquem e reflictam estas mensagens."
Axelrod é o "primeiro entre iguais" na campanha de Obama. Os dois conhecem-se há 15 anos e desde então Axelrod tem trabalhado para fazer sobressair o seu candidato e a sua história de vida (aos 45 anos Obama já publicou duas autobiografias).
Alguns pontos foram sobressaindo quase por acaso, disse Axelrod ao New York Times, quanto revia imagens antigas de Obama para construir o vídeo feito logo após o candidato anunciar a sua intenção de concorrer à presidência (uma equipa seguira Obama onde quer que ele fosse durante os últimos quatro anos, dando a Axelrod uma grande fonte de material).
Num excerto, vê-se Obama a mencionar a sua experiência de trabalho na comunidade num encontro com um pequeno grupo de eleitores quando ainda concorria para o Senado em 2004, e a ser recebido com um longo aplauso. "Não imaginámos que essa fosse uma parte importante da sua biografia, mas as pessoas realmente são sensíveis ao facto de ele ter recusado ofertas de trabalhos em grandes empresas para trabalhar na comunidade."
Para o século XXI
Axelrod também faz questão de se focar no futuro e nunca no passado. Lembra um artigo na revista Rolling Stone que foi ele que cunhou a expressão "ponte para o século XXI" usada pela campanha de Bill Clinton em 1992. E conseguiu pôr os media a repetir a sua ideia-chave: "Este não é um candidato convencional, se fizermos uma campanha convencional, perdemos."
O controlo da mensagem e da campanha de Obama tem sido total - aliás, o facto de não ter havido descontrolo era o motivo de vários artigos quando o candidato demorava a descolar nas sondagens, antes de ter sido favorecido pela crise em Wall Street e a crescente preocupação dos americanos com a economia.
Nascido no Lower East Side de Nova Iorque, numa família judia de classe média, Axelrod foi para a universidade de Chicago em 1972, já com uma paixão por política e por "jornais". Teve uma boa ascenção no Chicago Tribune, mas cedo se envolveu em campanhas políticas.
Axelrod já trabalhou para os democratas Hillary Clinton, John Edwards ou Chris Dodd. No escritório, conta o New York Times, há fotos dos presidentes de câmara, negros, de Filadélfia, Cleveland, Detroit e Chicago.
33 vitórias em 42
Numa América obcecada com números, os de Axelrod são impressionantes: ele ou a sua empresa de consultoria trabalharam em 42 campanhas locais ou gerais, e venceram 33, o que dá uma taxa de sucesso de 80 por cento, nota a Economist. O estratega republicano diz que coloca Axelrod no topo da lista de "pessoas que não quero ter a atirarem-me granadas".
A vida política tem sempre as suas ironias, e Axelrod não escapa. O consultor teve o seu primeiro grande conflito com alguém por causa do confronto entre Obama e Hillary Clinton. Axelrod e a sua mulher, Susan, têm três filhos, dois adolescentes e uma com 20 e poucos anos. Lauren, chama-se a filha mais velha, sofre de epilepsia e teve dificuldades de desenvolvimento. Susan Axelrod juntou-se com outras mães com filhos com epilepsia numa fundação, Cidadãos Unidos para a Investigação em Epilepsia. Clinton não só contribuiu para a fundação como conseguiu uma conferência dos Institutos Nacionais de Saúde. "Uma das coisas mais importantes que alguém fez pela epilepsia", disse Susan.
Mais pessoa, menos política
O New York Times nota que Axelrod pode ser uma mistura de tensões e conflitos, no estilo e na atitude: diz detestar a ideia de que se possa tornar o tipo de consultor que está tão presente nos media que ensombra o seu cliente, mas os trabalhadores da construção de Chicago reconhecem-no na rua de tanto o verem na televisão. Conduz um Pontiac Vibe (um monovolume humilde para um homem com o seu estatuto) mas tem uma enorme segunda casa no Michigan.
Axelrod terá, no entanto, dois pontos fracos: primeiro, como sublinha a Economist, o seu conhecimento está virado para "batalhas urbanas". Segundo, como nota o New York Times, Axelrod tende a basear as campanhas mais na personalidade, na autenticidade do candidato, e menos na ideologia.
Mas o facto de Axelrod acreditar que "o candidato é a mensagem" faz com que não goste de "complicar a narrativa com muitos detalhes de política", diz a revista, concluindo que esta estratégia pode encontrar o pior adversário em John McCain, ele próprio um candidato com uma biografia peculiar.

Sugerir correcção