Um café custa 1,20 euros mas a Starbucks entrou mesmo em força em Portugal

A Starbucks soma dias de filas à porta em Alfragide e começa a espalhar a sua cultura de café. Vai abrir ainda este ano a segunda unidade em Belém

a Há quem passe à porta e exclame "Olha!" e quem entre só para ver como é. Há também quem instale o seu computador durante horas numa das mesas e quem não se importe de aguardar vários minutos na fila que se estende para além da entrada. Uns vêm em primeira viagem, para testar a tão falada experiência Starbucks, outros seriam já os típicos clientes habituais, se não fosse o facto de a primeira Starbucks em Portugal ter aberto portas apenas na terça-feira, no centro comercial Alegro, em Alfragide, às portas de Lisboa.Dina Alves, de 24 anos, e a colega, Rita Barradas, de 25 anos, que trabalham numa empresa de comunicação em Linda-a-Velha pertencem ao último grupo. Ontem foi o segundo dia que se deslocaram propositadamente a Alfragide para ir à Starbucks, levando consigo vários pedidos de colegas do escritório: três bolos e seis bebidas de café, entre frappuccino, caramel macchiato, café latte e cappuccino.
A paixão de Dina por este mundo do café nasceu este Verão, quando esteve de férias em Nova Iorque. E se hoje a Starbucks entra em Portugal com produtos tipicamente portugueses como o pastel de nata ou de feijão (para além da Água das Pedras e dos chás Pleno), talvez seja a Dina que isso se deve. Afinal, os típicos bolos foram uma das sugestões que ela deixou escritas num questionário preenchido numa Starbucks nova-iorquina.
Contudo, ver pastéis de nata no meio das prateleiras cheias de saladas, sandes e bolos não foi a única surpresa de Dina no dia de estreia da Starbucks Portugal. "O meu cartão de crédito não funcionou na caixa e tinha uma conta de 16 euros", conta Dina. A jovem decidiu então levar apenas um café latte, mas a empregada recusou, dizendo que ela podia voltar no dia seguinte para pagar a despesa. "Nunca me tinha acontecido isto", revela. Ontem voltou para saldar dívidas e saiu com os sacos cheios. Para hoje, contava já com novas encomendas, inclusive de colegas que diziam não ter interesse nenhum em experimentar o café da Starbucks.
Seja apenas um breve efeito de novidade ou um fenómeno para durar, o balanço dos dois dias de Starbucks Portugal foi mais do que positivo. A partir da hora do almoço, o espaço torna-se pequeno para a quantidade de clientes que entram e saem e para os funcionários de uniforme preto e avental verde que, habilmente, driblam mesas e sofás e contornam as sacas e cestos que exibem algumas das 16 variedades de café Starbucks, de 60 países.
No meio deles, a girar constantemente pelas mesas da loja e da esplanada para recolher os tabuleiros, está Luís Rocha e Mello, director de operações da Starbucks Portugal. Sem adiantar o número de pessoas que passaram pela loja de Alfragide nos primeiros dois dias, Rocha e Mello explica apenas que "está a superar as expectativas". Segundo o responsável, a partir das 13 horas, a fila tem ficado sempre para lá da porta, até à noite, fazendo inveja às lojas vizinhas (a Starbucks não está instalada no piso da restauração, mas sim ao lado de marcas como a Bata, Oro Vivo ou Benetton).
Apesar de ter chávenas e canecas de porcelana ao gosto português, muitos clientes preferem sair da Starbucks com os famosos copos de cartão, que tantas vezes passearam pelos filmes de Hollywood, e há já quem apareça com o seu copo próprio de marca Starbucks para encher de café. Em muitos vê-se que a moda já pegou, ao passo que noutros é apenas o frémito da curiosidade que leva a uma incursão pela loja.
Seja porque a crise económica ainda não atingiu alguns bolsos, seja porque muitos preferem pagar mais por algo que vêem como de melhor qualidade, a verdade é que nem os preços acima da média praticados pela Starbucks - um café expresso custa 1,20 euros e uma refeição (salada, sandes e sumo) não fica a menos de 11 euros - estão a exercer um efeito dissuasor. No máximo gera comentários e entreolhares de admiração por parte de clientes de fato e gravata, que seguram nas mãos uma conta de 3,60 euros por três expressos.
"É mais caro que o normal", reconhece Marta, de 34 anos, que trabalha numa empresa de consultadoria perto do Alegro. Costuma ir almoçar ao centro comercial e acredita agora que a Starbucks será um local de passagem diária. O motivo? A variedade de bebidas (a Starbucks costuma dizer que tem 87 mil maneiras diferentes de beber café) e a sua qualidade, que tornam o preço "justificável". Sobretudo num sítio onde os empregados perguntam o nome a cada cliente, para o escrever, se for o caso, num copo de cartão e onde o mais difícil é encontrar resposta para a dúvida: "Que café hei-de escolher?"

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