Especialista avisa que barragens do Alto Tâmega vão afectar Fisgas do Ermelo

a A maior queda de água de Portugal e uma das maiores da Europa, as Fisgas do Ermelo no Parque Natural do Alvão (PNA), poderá "ser seriamente" afectada com a construção da barragem de Gouvães, alertou ontem Rui Cortes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e especialista da área do Ambiente. O professor afirma que a construção de quatro barragens na bacia hidrográfica do Tâmega e de três derivações de cursos de água vão "alterar completamente" a zona envolvente a este rio e até mesmo o PNA.Uma dessas derivações, refere, é precisamente o rio Olo, que alimenta as Fisgas do Ermelo, anualmente visitadas por milhares de pessoas. O projecto das quatro barragens da "cascata do Tâmega" - Alto Tâmega, Daivões, Padroselos e Gouvães - foi adjudicado ao grupo espanhol Iberdrola, que abriu concurso público para escolher a empresa que vai efectuar o estudo de impacte ambiental (EIA). Estes empreendimentos fazem parte do Plano Nacional de Barragens anunciado pelo Governo.
Segundo Rui Cortes, a barragem de Gouvães, a construir no rio Torno, vai derivar água de dois afluentes, o Olo - na zona a montante das Fisgas - e Alvadia. "O caudal que actualmente alimenta as fisgas será reduzido ao mínimo, afectando seriamente esta queda de água, que desaparecerá nos moldes em que a conhecemos actualmente, e o próprio PNA", sublinhou.
Além da derivação do Olo, um canal com 7,8 quilómetros, a albufeira de Gouvães será ainda alimentada pela derivação de mais dois rios, o Alvadia (canal de 4,4 quilómetros) e o Viduedo (três quilómetros). Com estas afluências à albufeira de Gouvães, a energia produzida naquela barragem em ano médio é estimada em 153 gigawatts-hora (GWh) por ano.
Rui Cortes diz que não está a pôr em causa a construção da barragem, mas sim a derivação de água do Olo. Por isso, espera que esta situação seja resolvida em sede do EIA: "Serve precisamente para evitar situações mais perniciosas e arranjar alternativas", vinca. O desnível das Fisgas do Ermelo, no concelho de Mondim de Basto, estende-se ao longo de 200 metros, separando as zonas graníticas das xistosas das terras envolventes. Lusa

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