Violência anticristã na Índia já fez 20 mortos, 50 mil deslocados e quatro mil casas destruídas

Supremo Tribunal indiano ordenou mais policiamento junto das comunidades cristãs para evitar aumento da violência, em crescendo nos últimos anos

a O jornal italiano Corriere della Sera perguntou-se sobre a razão do silêncio que, desde há meses, paira sobre as perseguições de cristãos na Índia. "Como se fosse um assunto interno da Igreja", lamentou o politólogo Angelo Panebianco. O último episódio, entre 20 mortos e 50 mil deslocados, só confirma a tendência: sexta-feira, aniversário da morte de Madre Teresa de Calcutá, quatro freiras da ordem por ela fundada foram agredidas no estado de Chattisgarh. No fim-de-semana, noticiou a agência Reuters, o Supremo Tribunal federal ordenou a colocação de mais polícias junto de comunidades cristãs. A decisão do tribunal segue-se a duas semanas negras, que culminaram com um dia de oração e jejum, sugerido aos cristãos pelos bispos católicos da Índia para domingo e que teve a solidariedade do Papa Bento XVI e dos bispos italianos.
Bento XVI referira-se, a 27 de Agosto, ao que está a acontecer no país de Gandhi, pedindo o fim dos actos de violência contra cristãos e apelando a políticos e líderes religiosos para que cooperassem no sentido de "restabelecer entre os membros das diferentes comunidades a convivência pacífica e a harmonia que sempre caracterizaram a sociedade indiana".
Os conflitos mais importantes têm sido registados no Estado de Orissa, no Leste. O Fórum Cristão, com representantes de diferentes igrejas no país, fala de 20 mortos, 50 mil deslocados e quatro mil casas destruídas, só nas últimas três semanas. A mesma fonte fala em 13 mil pessoas que deixaram as suas aldeias e vivem em nova campos de refugiados da responsabilidade do Governo. E há 200 aldeias afectadas pela violência, com centenas de igrejas destruídas.
Líder hindu assassinado
A onda de violência anticristã tem crescido nos últimos anos. Mas a vaga destas semanas tem origem no assassinato do líder hindu Swami Saraswati, a 23 de Agosto. O partido nacionalista hindu Bharatiya Janata Party (BJP, na oposição) e o Vishwa Hindu Parishad (Conselho Mundial Hindu) apelaram ao protesto. Daí até à acusação dos cristãos como responsáveis foi um passo.
Apesar dos apelos, incluindo do Papa, os confrontos provocaram várias mortes. Logo no dia 25 de Agosto, foram mortas duas pessoas - uma delas era uma mulher que morreu vítima de um incêndio criminoso num orfanato dirigido por católicos.
A 29 de Agosto, 30 mil escolas cristãs (sobretudo católicas, incluindo do rito siro-malabar, e protestantes) decidiram fechar as portas em protesto contra as mortes e a violência. Nessa noite, o ministro da Educação do governo de Karnataka, Vishweshwar Hegde Kageri (do BJP), disse que iria proceder disciplinarmente contra as escolas que fecharam.
Citado pela Ecumenical News International, Sajan George, presidente do Conselho de Cristãos Indianos, disse que as escolas hindus fecham muitas vezes em protesto por razões políticas e nunca são molestadas. O BJP tem sido acusado de ter uma agenda nacionalista hindu. Mas, acrescentou George, Karnataka foi o único dos cinco estados governados pelo BJP a tomar tal decisão.
a A sucessora de Madre Teresa de Calcutá à frente das Missionárias da Caridade, a irmã Nirmala, ela própria indiana, dirigiu um apelo público à reconciliação entre crentes de diferentes religiões. "Não devemos usar a religião para dividir-nos; a violência em nome da religião é um abuso da própria religião. E como repetia Madre Teresa, 'a religião é uma obra de amor, não está feita para destruir a paz e a unidade'", disse, citada dia 28 de Agosto pela Zenit, agência oficiosa do Vaticano.
Para Nirmala Joshi, os cristãos têm agora que ser verdadeiros discípulos de Cristo: "Deponhamos as armas do ódio e da violência e vistamos a armadura do amor, perdoando-nos uns aos outros pelo mal que nos fizemos."
A última vaga de violência anticristã sucede a vários anos de tensões e conflitos crescentes. Os relatórios sobre a Liberdade Religiosa que têm sido publicados registam o aumento dos ataques contra cristãos. O relatório de 2006 da Ajuda à Igreja que Sofre (organização dependente do Vaticano, com autonomia de funcionamento) já referia a "deterioração das relações entre a maioria hindu e a minoria muçulmana" e as acusações e ataques dirigidos contra cristãos, criticando severamente a linha política do BJP, partido nacionalista.

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