Torne-se perito

Músicas do Mundo Dez anos de festa

À 10º edição, o festival de Sines (e Porto Covo) tem mais músicas e mais concertos do que o costume. Mas promete continuar a ser um lugar de descoberta

a É reconhecidamente o mais importante encontro de world music no nosso país. O Festival Músicas do Mundo (FMM) arranca hoje, entre Sines e Porto Covo, com um programa festivo e alargado para a assinalar o décimo aniversário. Carlos Seixas, director artístico do festival desde o seu lançamento em 1999, faz questão de sublinhar que é a qualidade da música e dos convidados, aliada a um cada vez maior cuidado na organização e na logística, que mais o preocupa, a si e à equipa da câmara de Sines, que lançou e gere o festival. Mas os números são também bons indicadores do seu crescimento e implantação durante esta década. Em 1999, o FMM arrancou com sete concertos em três dias, que mobilizaram sete mil espectadores, no palco do castelo da cidade. Este ano, haverá 40 concertos distribuídos por dez dias e quatro palcos (entre Sines e Porto Covo). São esperados perto de 100 mil espectadores (o ano passado houve 80 mil), numa cidade que tem apenas 15 mil habitantes.
"Sines é um concelho predominantemente urbano e é uma das terras mais cosmopolitas do Alentejo", diz o presidente da autarquia, Manuel Coelho Carvalho, invocando a importância do porto marítimo e do complexo industrial para esta caracterização. O FMM foi criado em volta da figura de Vasco da Gama (que dá o nome ao castelo da terra, onde se crê que o navegador terá nascido), e quis desde o início apostar num programa que se pudesse associar "ao universalismo e ao encontro de mundos" que a figura do descobridor do caminho marítimo para a Índia simboliza, nota Manuel Coelho Carvalho. A world music e a miscelânia de culturas, da África, da Ásia e do Oriente, mas também das Américas", foi "a escolha óbvia" para o lançamento do festival, diz o autarca.
Foi uma aposta ganha, diz a ainda curta mais bem sucedida história do FMM, e atestam-no, por exemplo, Kalaf e Cristina Branco, duas figuras da música portuguesa do mundo que já nele actuaram. O líder dos Buraka Som Sistema diz que o FMM "é sempre uma aposta segura", tanto do ponto de vista musical como de animação. "Tem uma localização fantástica, junto à praia", e tem um verdadeiro "espírito de festival, no que ele dever ser de encontro e de celebração de todas as músicas", realça Kalaf, que aí tocou em 2006.
Cristina Branco, que guarda "boas recordações" dos seus concertos em Sines em 2002 e 2005 (neste ano, com a Brigada Victor Jara), realça a qualidade dos intérpretes, que, ano a ano, vêm fazendo o cartaz do festival. "Habitualmente, a world music não passava pelo nosso país. O Músicas do Mundo foi fundamental para mostrar entre nós as diferentes expressões musicais e, ao mesmo tempo, para abrir a porta e abrir perspectivas para a própria música portuguesa". "O festival é sempre uma descoberta", realça a fadista, que este ano espera poder ir assistir a alguns concertos.
Rock chinês em estreia
E que mundos das músicas do mundo vão estar este ano representados em Sines? Num programa mais extenso e ambicioso do que é habitual e que aposta numa maior "multiplicidade de géneros e de origens", Carlos Seixas não quer fazer "um escalonamento", afirmando a qualidade de todos os participantes. Mas acaba por aceitar chamar a atenção para algumas "apostas inusitadas": a primeira actuação no nosso país do chinês Cui Jian, considerado "o pai do rock" deste país, a cantora indiana Ashla Bhosle, a formação actual do colectivo afro-americano The Last Poets, fundado nos anos 60 em pleno movimento de luta anti-racial nos Estados Unidos; a cantora e compositora maliana Rokia Traoré e o regresso dos veteranos Orquestra Baobab, do Senegal. Este "retrato sonoro do mundo", lema da organização, completa-se com intérpretes e formações vindos de países e regiões tão diversos como Belize e a Finlândia, Gâmbia e Israel, México e Angola, Galiza e Camarões...
A música portuguesa está representada por A Naifa (amanhã), Danças Ocultas (dia 20), Danae (dia 21), Dead Combo (dia 22) e Mandrágora (dia 24). É, uma vez mais, assinala o director artístico do FMM, a "aposta em projectos emergentes" da música etno que se faz no nosso país.
O programa do 10º FMM divide-se por três palcos em Sines (o castelo, que surgirá aos frequentadores do festival com cara renovada; o recinto na avenida Vasco da Gama, junto à praia, e o Centro de Artes) e um quarto em Porto Covo.
O FMM tem, este ano, um orçamento previsto que se aproxima do milhão de euros - integralmente pago pela câmara, patrocinadores e bilheteira. "O nosso objectivo é que o festival se auto-financie", diz Manuel Coelho Carvalho.

10º Festival Músicas do Mundo

SINES e PORTO COVODe hoje a 26 de Julho
Bilhetes a 5 e 10 euros

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