Portimão abre hoje um museu dedicado à indústria do mar

No Algarve procura-se "pescar"
mais turistas dando a conhecer
a cultura local no formato de uma histórica fábrica de conservas

a Da decadente indústria conserveira algarvia pouco mais resta do que a memória. O ministro da Cultura, José Pinto Ribeiro, inaugura hoje, em Portimão, a antiga fábrica de conservas Feu Hermanos, transformada em museu municipal. O projecto cultural, destinado a atrair visitantes à cidade, custou 9,5 milhões de euros, e a ideia vem desde os anos 80, quando a autarquia se deu conta de que a pesca e a agricultura estavam condenadas a desaparecer para dar lugar ao turismo, que ganhou, entretanto, estatuto de sector "estratégico" da economia nacional.O Museu de Portimão, integrado na Rede Portuguesa de Museus, ocupa uma área de 5000 metros quadrados para dar a conhecer um Algarve, afectivamente ainda próximo, mas que já faz parte da história. Olhão e Vila Real de St.º António e Portimão foram cidades que deram a conhecer aos ingleses e outros povos a sardinha algarvia, em latas de conserva, muito antes de os britânicos terem descoberto a região para passar férias. O número de fábricas de conservas está reduzido à sua ínfima expressão. Em Vila Real de St.º António, por exemplo, fecharam as unidades fabris, e as novas unidades estão a abrir no lado espanhol, em Ayamonte, aproveitando a experiência dos operários portugueses. A câmara pretende, com as memórias da indústria, atrair mais turistas à cidade.
A recuperação da fábrica Feu, situada à beira do rio Arade, por si só poderá ser considerada uma peça museográfica do património industrial. O espaço, embora dedique uma área significativa às artes e ofícios, assenta grande parte da colecção do museu no património industrial. Para isso, contribuíram as colecções, entre outros, dos herdeiros de Júdice Fialho e Armando Feu. A imagem de Portimão a partir de meados do século XX está exposta num conjunto de cerca de 3000 fotografias, adquiridas pelo município a Júlio Bernardo.
O espólio inclui ainda uma colecção do antigo Presidente da República e escritor Teixeira Gomes, natural de Portimão. Mas há outras figuras - com destaque para o mestre Chico, o último latoeiro a laborar na cidade - que ali têm lugar. A exposição de referência, de longa duração, chama-se "Portimão - Território e Identidade". Uma mostra que pretende dar uma visão global da evolução da comunidade, em que o mar surge em permanência como um "desafio", mas ao mesmo tempo uma marca de vida no quotidiano da cidade. A entrada para o museu é feita pelo lado do rio.
O presidente da Câmara de Portimão, Manuel da Luz, no Jornal Municipal, de Maio, disse que considerava este equipamento "multifuncional". A aposta da autarquia, sublinhou, é criar um conjunto de interesses culturais para atrair os cerca de 60 mil visitantes por ano, que espera vir a alcançar com o porto de cruzeiros, recentemente inaugurado. O financiamento foi assegurado pelo Programa Operacional da Cultura, em 50 por cento, e a outra metade da responsabilidade da autarquia. O projecto teve início nos anos 80, mas a câmara só adquiriu a antiga fábrica de conservas, situada junto ao Convento São Francisco, em 1996. As obras de reabilitação e adaptação demoraram cerca de quatro anos.
Recuperação ribeirinha
Manuel da Luz justifica o investimento municipal como "uma questão de ambição", por considerar que o museu vai ter um papel "estruturante para a região", com um enfoque especial no sector turístico. Nesse sentido, foi criado um serviço de cafetaria, restaurante e esplanada, com horário independente do praticado pelo museu. A abertura deste espaço cultural, defende a edilidade, insere-se numa estratégia que visa recuperar toda a zona ribeirinha, de Portimão à praia da Rocha. A acompanhar as propostas do município, o sector turístico e hoteleiro responde com projectos de construção, mas a imagem das torres da praia da Rocha continua a marcar, negativamente, um concelho que aposta na construção de um autódromo e outros equipamentos para se lançar na alta velocidade dos grandes investimentos turísticos.

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