Forças especiais portuguesas e brasileiras mantêm "intercâmbio técnico-táctico"

Elementos do Grupo de Operações Especiais deverão ir ao Brasil ver como a Tropa de Elite trabalha nas favelas

a O intendente Magina da Silva, que vai comandar, a partir de Maio, a nova Unidade Especial de Polícia, que integrará o Grupo de Operações Especiais (GOE), garante que não estão em curso acções de formação entre o GOE e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) brasileiro, mais conhecido como Tropa de Elite.Em comunicado enviado ontem, a PSP esclareceu que o BOPE "solicitou ao MAI [Ministério da Administração Interna] a realização de um intercâmbio técnico-táctico" com o grupo da PSP, "tendo em vista a preparação [...] para os Jogos Pan-Americanos, que ocorreram no Rio de Janeiro no segundo semestre de 2007", e que versou sobre "situações de sequestro e tomada de reféns".
Este "intercâmbio técnico-táctico" é mantido, "com frequência", com "muitas outras unidades" estrangeiras, sublinhou ao PÚBLICO Magina da Silva, precisando que não se trata de ensinar e aprender, mas de acções em que "cada um retira as suas ilações", independentemente das semelhanças entre os contextos de intervenção.
"O GOE não recebeu formação do BOPE", assegurou Magina da Silva, que já comandou as operações especiais portuguesas. Na sequência da visita do BOPE, o GOE foi convidado para "uma retribuição, durante este ano, para ver como [as operações especiais brasileiras] trabalham nas favelas", adiantou.
Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, diz ter tomado conhecimento da vinda de "elementos do departamento de formação" do BOPE.
"Que tipo de formação nos podem dar? O BOPE não existe para fazer detenções. Existe para matar, abrindo fogo de morte sobre as pessoas. Ora, o GOE não é isso. A sua principal missão é a prevenção, existe para fazer detenções e, só em último recurso, quando a vida de um dos seus elementos ou dos cidadãos está em causa, é que recorre ao fogo. O BOPE não pode ensinar nada, em termos técnicos, que o GOE já não saiba", considerou, adiantando que, na reunião do sindicato da próxima semana, vai "pedir esclarecimentos" sobre o "convite a uma força de elite que tem uma missão completamente diferente em termos de objectivo e modo de actuação".
"Uma coisa é ir num âmbito quase recreativo, de troca de conhecimento e informação; outra é preparar pessoas para terem um tipo de actuação", realçou. "Portugal não chegou ao ponto de usar equipas de elite como se faz no Brasil. Não é com a repressão que se resolvem os problemas, mas com a prevenção", comparou.
Ontem, o BE questionou o Governo sobre os "treinos" que o GOE estaria a receber da Tropa de Elite e sobre o "protocolo de formação" entre as duas unidades. Recordando que a força brasileira "é internacionalmente reconhecida pela violência indiscriminada e desproporcionada que usa nas acções que leva a cabo", em especial nas favelas do Rio de Janeiro, o BE perguntou ao MAI português se o "tipo de atitudes" do BOPE é o que pretende "que as forças de segurança portuguesas adoptem".

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