A solidão enigmática de Borremans chega a Portugal

O Centro de Artes Visuais em Coimbra mostra pela primeira vez em Portugal trabalhos
do artista belga Michaël Borremans: obras cheias de enigmas a decifrar

a Para além de ser a primeira vez que a obra de Michaël Borremans é apresentada em Portugal, é também a primeira vez que uma exposição do artista belga é organizada em função dos seus filmes. Weight, comissariada por Delfim Sardo, pode ser visitada no Centro de Artes Visuais (CAV), em Coimbra, até 8 de Junho e inclui filmes, desenhos e pinturas. A solidão, o absurdo e a estranheza daquelas personagens atravessam toda a enigmática obra de Borremans. Foi na Bienal de Berlim de 2006 que Delfim Sardo viu os trabalhos deste belga, que se dedica ao desenho e à pintura e que, nos últimos tempos, começou a explorar também os caminhos da sétima arte. O curador de arte conta que ficou "fascinado" e que, de imediato, entrou em contacto com o artista que lhe disse já ter um convite para expor no célebre De Appel Arts Centre, em Amesterdão. Foi assim que surgiu a ideia para esta exposição, uma co-produção entre o centro holandês e o CAV.
A exposição apresenta ao público 13 desenhos, seis pinturas e cinco filmes do artista que nasceu em 1963, em Geraardsbergen, Bélgica, e que vive e trabalha em Gentz, no mesmo país.
As personagens solitárias que habitam o universo de Borremans são sempre as mesmas, passam pelas pinturas, pelos desenhos, pelos filmes. Repetem gestos indecifráveis, absurdos, aparentemente inúteis. Fazem-no como autómatos, ainda que melancólicos e solitários. É nesta estranheza que aquelas personagens moram.
"Como num jogo cujo único sentido é a sua manutenção e repetição, os retratados de Borremans são personagens sem qualquer espessura psicológica senão a que lhes advém do uso de um adereço (um boné estranho, um determinado par de calças, uma estranheza na postura), que remete para uma tradição pictórica do retrato entre Velázquez e Manet", lê-se num texto de Delfim Sardo.
Porém, na exposição, montada como se fosse um filme, recorrendo a raccords visuais - as mesmas figuras, os mesmos gestos, são reconhecíveis nos quadros, nos filmes e nos desenhos - não são só as personagens que se cruzam. Os processos artísticos também. Há filmes encaixilhados, como se fossem quadros, e pequenas caixas com figuras minúsculas lá dentro - são espectadores de um filme.
No âmbito da exposição, foi publicado um catálogo pela editora alemã HatjeCantze, em português, holandês e em inglês, que inclui ensaios de Massimiliano Gioni, Philippe-Alain Michaud e Delfim Sardo. De acordo com um dos textos de Ann Demeester, directora do Centro de Artes De Appel, e de Albano Silva Pereira, director do CAV, "o enigma - deliberadamente "construído" ou não - tem sido uma característica constante na obra de Michaël Borremans dos últimos dez anos". Mas, acrescentam, não é um enigma para resolver ou decifrar.

WeightMichaël Borremans
Centro de Artes Visuais, em Coimbra
Até 8 de Junho, entrada livre

Sugerir correcção