Torne-se perito

F-16 que caiu em Monte Real tinha acabado de ser modernizado

Avião apresentou anomalias
no voo durante a aproximação à pista e piloto desviou-o para um pinhal, antes de se ejectar

A Força Aérea tinha ontem uma discrição genérica do acidente baseada em testemunhos oculares a O avião acabara de sair das oficinas e o piloto era o mais experiente na Força Aérea com aquele tipo de aeronave. Mas algo correu mal e o oitavo caça F-16 português reconvertido para o que há de mais moderno na sua categoria transformou-se ontem numa pilha de destroços no meio de um pinhal, junto à Base Aérea de Monte Real.
O piloto ejectou-se a tempo e saiu ileso do acidente. Resta saber o que fez despenhar o avião, cujo valor a Força Aérea não quis ontem precisar. O inquérito está a cargo da Comissão de Investigação de Acidentes da Força Aérea.
Sete outros F-16 da Força Aérea já tinham sido modernizados para o padrão MLU (Mid Life Upgrade). O que ontem caiu realizava precisamente o seu voo de ensaio, obrigatório depois de concluída a intervenção na aeronave, que inclui alterações estruturais, eléctricas e mecânicas.
O avião descolara da Base Aérea de Monte Real pouco antes das 13h00, para realizar ensaios sobre o mar. Acabou por cair cerca das 13h40, depois de 45 minutos de voo, de acordo com o tenente-coronel Vítor Lopes, segundo-comandante da base aérea.
Ontem, a Força Aérea tinha já uma descrição genérica do acidente, baseada em testemunhos oculares. O F-16 estava na fase de aproximação final à base aérea, ou seja, alinhado com a pista, no sentido Sul-Norte. Ao seu comando estava o tenente-coronel João Pereira, piloto com mais de duas mil horas de voo em caças F-16.
Mas, ao invés de seguir estabilizado, o avião começou a oscilar verticalmente, levantando e abaixando o nariz. Segundo Vítor Lopes, o movimento ondulatório foi agravado quando o F-16 assumiu a configuração de aterragem - fase em que se baixa o trem de pouso e se estendem os flaps. O piloto ainda fez uma manobra, rolando o avião para uma posição perpendicular ao solo e desviando-o do alinhamento da pista, em direcção a um pinhal.
Foi nessa altura que o piloto accionou a ejecção automática. Segundo Vítor Lopes, esta decisão deve ser tomada "quando a aeronave não pode ser controlada em voo".
O piloto desceu, em pára-quedas, cerca de um quilómetro a sul da pista. "Quando aterrou ligou-me a dizer que estava tudo bem. Foi pelos seus próprios meios até à estrada", disse Vítor Lopes. Mesmo sem ferimentos aparentes, foi levado para o Hospital da Força Aérea, em Lisboa, para exames.
Estrondo em dois actos
Quando viu o pára-quedas a descer, Armando Ferreira da Cruz, um morador local, pensou que se tratasse de um exercício. "Vi o indivíduo a descer por ali abaixo e pensei que vinham mais pára-quedistas", disse ao PÚBLICO. O avião seguiu adiante e caiu mais à frente, no pinhal. "Eles fazem tanto barulho que pensei: "Não caiu"", disse Armando Cruz.
Mas em Pilado, povoação que fica a pouca distância da cabeceira sul da pista da base aérea, muitos notaram logo o que se passara. "Foi um estrondo em dois actos", disse Rodrigo Lavos, proprietário de um café. "E ainda houve mais um", acrescentou Márcio Moita.
Pilados é uma "terra indignada pelo barulho", segundo os seus moradores. O ruído dos aviões é uma perturbação presente. "Quando são dois a trabalhar, até estremece", conta Rodrigo Lavos.
O pinhal onde caiu o avião atraiu muitos curiosos ontem, uns com crianças, outros com cães, alguns com os cônjuges. Mas com um cordão de isolamento sobre a zona do acidente, os destroços do F-16 escondiam-se no meio dos pinheiros.
"Isso vê-se alguma coisa ou não se vê nada?", indagou ao PÚBLICO o condutor de um BMW. Não, via-se muito pouco.

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