Torne-se perito

O segredo da TVI é manter as coordenadas fixadas em 2000

Na programação, "o tempo dos reality-shows ainda não passou". Na estratégia, Moniz trabalha no canal TVI 24 e prepara-se para a TDT

Pequeno destaque em caixa com fundo que tambem pode servir de legenda para a fotografia do lado esquerdo a José Eduardo Moniz trabalha em televisão há 30 anos e em 2008 cumpre dez anos à frente da TVI. O director-geral do canal (MediaCapital) começa o ano com a estação à frente nas audiências e com o novo canal de cabo, TVI 24, no horizonte.
Moniz garante estar satisfeito na TVI, mas não afasta taxativamente uma possível transição para o novo canal aberto já autorizado para a Televisão Digital Terrestre (TDT). E avisa que, com a abertura a novas frequências, os espectadores vão ter mais, mas não necessariamente melhor, televisão. Moniz diz ainda que o regresso de Manuela Moura Guedes aos ecrãs vai acontecer naturalmente.
Os dados da Marktest dão a liderança à TVI pelo terceiro ano consecutivo. Quais são os elementos fundamentais na programação da TVI que alicerçam este sucesso?
A estabilidade das opções feitas em 2000. Nós mantemos as coordenadas-chave definidas nessa altura e elas são a informação, a ficção, o entretenimento, o futebol e as séries estrangeiras.
Quais se destacaram em 2007?
A ficção e a informação diária que produzimos. Não posso deixar de mencionar o contributo relevantíssimo que foi dado pelos talk-shows que transmitimos. Temos seis horas de talk-shows, três de manhã e três à tarde, que foram importantíssimos na consolidação das manhãs, em primeiro lugar, com o programa do Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, e para o nosso avanço na tarde, com as Tardes da Júlia, da Júlia Pinheiro.
Em 2008, a TVI vai ter novidades no entretenimento e na informação. Na informação, elas passam pelo regresso de Manuela Moura Guedes aos ecrãs?
Nunca escondi que o regresso da Manuela ao ecrã tinha que se fazer e isso vai naturalmente acontecer. Teremos também outras pessoas no ecrã da TVI, com os diversos géneros no ar, da entrevista ao debate, passando pela grande reportagem, respeitando o perfil de televisão generalista plural que somos.
No entretenimento, continuará a aposta nos reality-shows e nas novelas portuguesas?
Vamos apostar na nossa ficção, que é um dos nossos suportes básicos, não só com as novelas mas também com séries. Vamos ter mais programas de entretenimento, nomeadamente reality-shows. Sim, porque o tempo dos reality-shows ainda não passou. E vamos ter ao longo do ano um conjunto de iniciativas relacionadas com o 15.º aniversário da TVI, que se comemora a 20 de Fevereiro.
Na lista dos 25 programas mais vistos do ano, há apenas três que se intrometem no domínio do futebol. Como vê estas preferências do público?
Quando queremos estabelecer comparações entre televisões, temos que olhar para os programas que têm carácter regular nas grelhas e nesses os da TVI dominam avassaladoramente. Todos os outros são acontecimentos ocasionais, que não obedecem à mesma lógica de habituação que a televisão requer.
Em 2008 estão em aberto muitas novidades no panorama televisivo, que se prendem com o surgimento de novos canais através da TDT. É a favor ou contra um novo canal aberto?
Já ultrapassei essa fase. A partir do momento em que o Governo anuncia que vai haver um quinto canal a discussão é estéril.
O seu nome surge no meio como possível para liderar um quinto canal aberto, que estará a ser disputado entre Cofina, Controlinveste e Sonaecom. Já foi sondado para um cargo num novo canal? Está aberto a desafios?
A nossa vida é sempre um livro aberto. Nunca se leu uma página até chegar a ela. Sinto-me bem na TVI e só numa circunstância em que não me sentisse bem e o projecto deixasse de me interessar é que poderia encarar uma hipótese desse tipo.
O que pensa da abertura de novas frequências e novos canais trazida pela TDT?
É uma abertura inevitável por aquilo que são as novas tecnologias e temos de nos ajustar a isso. Os espectadores portugueses vão ter muito mais oferta, o que não significa que tenham melhor televisão, porque todos vão ter de olhar com muito mais cuidado para os custos.
Este ano a TVI abre o seu canal de cabo. Que canal vai ser este?
É um canal de informação, que pretendemos que se chame TVI 24. É um canal de emissão 24 horas por dia feito por equipas constituídas dentro da TVI, para garantir que temos um produto altamente competitivo num mercado que sabemos que é difícil - e uma vez que durante este tempo estivemos à espera, a nossa concorrência teve oportunidade de se instalar.
E este canal será para quando?
Não sei precisar, estamos ainda a fazer o levantamento global para conseguirmos definir uma data. Mas, no limite dos limites, será no último trimestre do ano.
O ano de 2007 ficou marcado pela ascensão da RTP1 ao segundo lugar das audiências. A que se deve essa subida e ultrapassagem da SIC?
Deve-se a muitos factores. É preciso não esquecer que a RTP comemorou este ano o seu 50.º aniversário, o que lhe permitiu fazer operações com algum relevo. Deve-se à circunstância de ter muitos jogos de futebol e também ao facto de, não vamos fugir a isso, do lado da SIC nem sempre as opções de programação feitas me parecerem ter sido as mais adequadas às necessidades ou gostos dos espectadores. Não gosto de falar das opções da minha concorrência, não quero ser deselegante nem elogioso para ninguém (riso).
Em 2008, a SIC poderá seguir o modelo que Nuno Santos aplicou na RTP ou o facto de ser um canal privado condiciona a aplicação de tal modelo?
Não vou especular sobre isso. Trabalhar numa estação pública não é o mesmo que trabalhar numa estação privada.
2007 também ficou marcado como um ano em que muito se falou de pressões governamentais no meio jornalístico. Como encara essas denúncias?
As tentações totalitárias sempre existiram, o combate entre a liberdade de informação e aqueles que a querem controlar não é de hoje, é de sempre. Não estamos a viver situações completamente novas. É um processo cultural, dinâmico, que os jornalistas saberão enfrentar e a sociedade portuguesa é suficientemente adulta para não permitir que algumas coisas que ocorreram em tempos recentes venham a repetir-se. Creio que o eleitorado já demonstrou várias vezes que é muito cioso do cumprimento das mais elementares regras da democracia e que habitualmente pune quem lhe mente. Aos jornalistas o que se exige é que tenham coragem, coluna vertebral e que não abdiquem minimamente do relato da verdade no exercício da sua função. Aos directores compete dar-lhes inteira cobertura para que assim seja e ter a cabeça arrumada quanto aos critérios que devem seguir. Os únicos critérios são o da verdade e da independência.

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