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História Genealógica da Casa Real Portuguesa

Obra de referência entre a bibliografia e a historiografia, A História Genealógica da Casa Real Portuguesa, de D. António Caetano de Sousa, é uma obra monumental em que se reconstituem as ligações de parentesco articuladas pelos monarcas portugueses, desde a fundação do Reino até à 1ª metade do séc. XVIII. A obra é publicada em 14 volumes, acrescidos de outro, inédito, composto por especialistas da Academia Portuguesa de História, que aborda a composição e a sucessão da Casa Real Portuguesa desde meados de Setecentos até à queda da Monarquia. Todas as quintas-feiras, com o PÚBLICO por mais 12,50 euros

a A instituição e a consolidação da dinastia de Bragança são os temas dominantes do VII volume da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, que amanhã é distribuído com o PÚBLICO. O mesmo é dizer que o protagonismo pertence ao 8º duque de Bragança e 1º monarca da nova dinastia, D. João IV, e aos membros da sua prole que alcançaram um papel saliente na história do Reino. Dois destes nasceram ainda no palácio de Vila Viçosa: D. Teodósio e D. Catarina; outros dois vieram ao mundo em Lisboa, já no seio da corte régia e, mercê de várias contingências, foram eles que acabaram por ocupar o trono: D. Afonso VI e D. Pedro II.À data do seu nascimento e na condição de filho herdeiro do 7º duque de Bragança, D. João estava apenas destinado a suceder ao pai. Instalados no distante palácio do Escorial, os Áustrias reinavam sobre Portugal com a aceitação pública dos Braganças. Ninguém se abstraía, contudo, da influência política e da importância simbólica emanadas a partir de Vila Viçosa, sede da Casa mais rica do Reino, na qual se conservavam, em estado ensimesmado, direitos de acesso à Coroa, resultado do parentesco estreito com a antiga dinastia de Avis.
Quando as pressões fiscais e as exigências militares da Monarquia Hispânica se acentuaram, dando origem a movimentos de sublevação e de conspiração, o 8º duque de Bragança tornou-se uma figura de referência óbvia, a melhor alternativa para o exercício de um poder soberano restaurado. Daí que o nome de D. João IV tivesse sido proclamado nas ruas de Lisboa, logo a 1 de Dezembro de 1640, 14 dias antes de ter sido realizada a cerimónia oficial de aclamação régia.
Os anos de governo que se seguiram ficaram marcados por uma conjuntura geral de dificuldades. D. João IV teve de promover a reorganização do aparelho de Estado, conduzir a inevitável guerra contra as hostes espanholas e achar os respectivos meios de financiamento, não esquecendo a necessidade de desenvolver esforços diplomáticos, junto das principais cortes europeias, no sentido de obter o reconhecimento da independência nacional e de produzir entendimentos susceptíveis de preservar o império português, havia décadas sob ataque das potências rivais dos Áustrias.
Foi, aliás, no contexto da formação de alianças político-militares internacionais que se veio a forjar a sorte da infanta D. Catarina. Se as filhas da Casa Real eram, tradicionalmente, destinadas à realização de matrimónios vantajosos para o Reino, este objectivo ganhou verdadeira premência na época pós-Restauração. A mão da infanta chegou a ser prometida a Luís XIV de França, mas foi Carlos II de Inglaterra quem a desposou de facto.
Também o casamento de D. Teodósio foi alvo da atenção da Coroa, sem que tivesse havido oportunidades práticas de concretização. Jurado como herdeiro do trono em 1641 e usufruindo dos títulos de príncipe do Brasil e de duque de Bragança desde 1645, D. Teodósio faleceu ainda em vida do pai. Apesar de curta, a sua experiência de vida bastou para fazer demonstrações públicas de inteligência e de arrojo militar.
O perfil do irmão D. Afonso VI dificilmente poderia ter sido mais contrastante. Padecendo de limitações físicas e intelectuais causadas por uma doença de infância, o sucessor de D. João IV cedo deu mostras de possuir um espírito indómito e de preferir os divertimentos às responsabilidades inerentes ao estatuto de rei. O seu reinado ficou marcado pelo fim forçado da regência exercida pela mãe D. Luísa de Gusmão, pela entrega de grandes poderes ao conde de Castelo Melhor e por um breve e atribulado casamento com D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, filha do duque de Nemours e prima de Luís XIV.
Confrontado com a deterioração da cena política interna, o infante D. Pedro decidiu-se a intervir nos finais de 1667, afastando, consecutivamente, o conde de Castelo Melhor e o próprio monarca do exercício de funções. D. Pedro absteve-se, no entanto, de tomar o título real, limitando-se a assumir a regência e a condição de herdeiro da Coroa. Depois de anulado o casamento do irmão, casou com D. Maria Francisca, que lhe deu uma única filha. Foi já na qualidade de monarca que D. Pedro contraiu segundas núpcias e garantiu tranquilidade à sucessão na dinastia de Bragança.

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