John Howard marca eleições e vai lutar para conseguir o seu quinto mandato

O Partido Trabalhista, na oposição, lidera as sondagens. As alterações climáticas e a retirada de tropas no Iraque dividem os candidatos, mas a economia vai ser a questão central

a Há meses que se esperava que o primeiro-ministro australiano, John Howard, marcasse a data das eleições. Com as sondagens a mostrar a sua popularidade a mergulhar face à dos trabalhistas, Howard, marcou-as finalmente, para 24 de Novembro. Mas não perdeu o tom de desafio que o tem caracterizado nos 11 anos que leva à frente da nação-continente: "Este país não precisa de uma nova liderança, nem de uma velha liderança. Precisa é do líder certo.""Amem-me ou odeiem-me, o povo australiano sabe o que penso sobre os assuntos importantes para o seu futuro", disse Howard, de 68 anos, líder do Partido Liberal. Mas uma sondagem já deste mês do jornal The Age e da empresa Nielsen apontava uma vantagem de 12 pontos para os trabalhistas liderados por Kevin Rudd, um ex-diplomata de 50 anos, que fala mandarim.
Iraque e Quioto na berlinda
Para Rudd, o Governo perdeu contacto com o povo, ganhou mofo. O pior que podia acontecer era Howard ser reeleito, "e nada mudar quanto às alterações climáticas e à gestão da água, nos hospitais, nas escolas, nas universidades, no trabalho", disse Rudd, citado pelo The Age.
Estas podem ser as eleições mais duras que Howard alguma vez enfrentou. Rudd é o seu oponente mais forte, desde que subiu ao poder, em 1996. Uma sondagem do jornal Sun-Herald concluiu que os trabalhistas devem conseguir mais 20 assentos parlamentares que a coligação liderada por Howard - e isso são quatro deputados a mais que os necessários para derrubar o actual Governo.
Rudd prometeu retirar 500 dos 1500 soldados australianos no Iraque, se ganhar, o que pode causar problemas aos Estados Unidos. Mas 80 por cento dos australianos opõem-se à presença do país no Iraque. Prometeu também ratificar o protocolo de Quioto, deixando os EUA sozinhos como opositores ao tratado para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. As alterações climáticas são um tema cada vez mais quente na Austrália, porque o país está a enfrentar a maior seca dos últimos 100 anos.
Mas os temas domésticos devem ser os que maior peso terão nas eleições. "Se for primeiro-ministro, vou ratificar Quioto, vou proibir a construção de reactores nucleares, o novo Código do Trabalho [detestado por mais de metade da população], vou investir numa revolução da educação e construir uma rede de banda larga nacional", garante Rudd, que não é económico naquilo que promete.
O peso da economia
Howard responde que os trabalhistas não sabem gerir o dinheiro, sublinhando que o seu Governo conseguiu que país atingisse "um assinalável nível de prosperidade. A taxa de desemprego é a mais baixa dos últimos 33 anos.
Mas os eleitores andam preocupados com a subida das taxas de juro, que já vão em 6,5 por cento - e subiram cinco vezes desde as últimas eleições, quando Howard prometeu que iam descer. A estas eleições assenta que nem uma luva o mote da campanha que levou Bill Clinton à Presidência dos EUA: "É a economia, estúpido!"
O maior erro de Howard pode ter sido a nova lei do trabalho, que reduziu os benefícios dos trabalhadores, tornando mais fáceis despedimentos e contratações, disse o analista político Nick Economou à Reuters. "Deixou as pessoas muito inseguras, no que devia ser um período de prosperidades e estabilidade."
Tal como aconteceu com Tony Blair e Gordon Brown, no Reino Unido, Howard também prometeu passar o poder para o seu ministro das Finanças, Peter Costello - mas só "para meio do próximo mandato."
Howard é visto como a velha raposa da política australiana, mas está a ser ameaçado no círculo eleitoral de Bennelong, em Sydney, onde é eleito deputado há mais de 30 anos. Quem o ameaça é a antiga jornalista do canal de televisão ABC, Maxine McKew, que concorre pelos trabalhistas. Por ora, Howard ainda leva vantagem de 4,2 por cento, mas foi forçado a passar mais tempo com os seus eleitores, porque McKew está a bater, literalmente, a todas as portas.

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