Afinal parece que Nossa Senhora tinha defeitos...

Para além dos pecados ou da ausência de virtudes, elas souberam sempre amá-Lo

Um livro intitulado Os Defeitos de Maria, com o subtítulo E as qualidades de algumas mulheres anónimas do Evangelho, da autoria do padre Gonçalo Portocarrero de Almada, sacerdote do Opus Dei, e apresentado na Feira do Livro de Lisboa por uma sua colega dos tempos da faculdade, Paula Teixeira da Cruz, advogada, casada, mãe de dois filhos, que se intitula ateia, aparenta ser, no mínimo, uma mistura explosiva.Aliciada por tais ingredientes, não resisti, arrisquei a sua leitura e saboreei o humor e a seriedade que preside a este conjunto de nove meditações marianas, editado pela Lucerna.
Protegido por este título, à partida com um certo odor de blasfemo ou de pouco siso, o autor conduz-nos e deleita-nos através das várias figuras femininas que se foram cruzando na vida de Jesus, salientando todos os seus defeitos, que, filtrados com eloquência e magnanimidade, se vão transformando em virtudes.
Ao desfolhar e ao meditar sobre estas luminosas páginas plenas de beleza e harmonia - que mais aparecem fazer parte de um quadro que genialmente retrata a passagem de Cristo na Terra -, uma constante é inevitável: a superabundância do feminino e a exaltação da mulher, aquela presença constante em toda a vida do Senhor.
Para além dos pecados ou da ausência de virtudes, elas souberam sempre amá-Lo como ninguém, nunca duvidaram da Sua grandeza e por Ele foram também amadas, corrigidas e até perdoadas.
Chegados ao fim desta cadência de sucessivas homenagens às várias personagens que o autor elege e homenageia, somos agraciados com um ramalhete, não de rubras papoilas, como as do poeta, mas dos doze defeitos de que a Virgem Maria foi portadora.
Em jeito de sugestão para férias fica a leitura destas singelas páginas, que podem ajudar a compreender melhor a misteriosa vida de Nossa Senhora e a certeza esperançosa de que, para além dos imensos e infindáveis defeitos com que a sorte nos contemplou (a nós, não a ela...), existe um tempo a que se ousa chamar vida e no qual os podemos transformar em virtudes.
Exemplos não nos faltam, e os bons exemplos não são para desperdiçar, pelo que, em tempo de férias, esta poderá ser mais uma ideia positiva a reter e a concretizar. Professora

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