Baronesa Thyssen chama "teimoso" a Siza Vieira e volta a manifestar-se contra o projecto do arquitecto para Madrid

a A baronesa Thyssen, Carmen Cervera, e mais algumas centenas de pessoas voltaram ontem a manifestar-se no centro de Madrid, contra o projecto de uma equipa de arquitectos liderada pelo português Álvaro Siza Vieira para a remodelação do eixo Prado-Recoletos - zona que inclui o triângulo formado pelos principais museus da cidade, o Thyssen, o Prado e o Rainha Sofia. A polémica surgiu há um ano, e regressa agora, a poucas semanas das eleições municipais de dia 27. No centro das preocupações da viúva do barão Thyssen-Bornemisza estão as cerca de 700 árvores que, segundo ela, seriam sacrificadas no projecto porque, dada a sua antiguidade, não sobreviveriam à tentativa de as transplantar para outro lado. "Estas árvores são divinas e basta olhar para elas para perceber que são únicas e que é impossível transportá-las", disse ontem a baronesa, aplaudida pelos participantes na manifestação convocada pela Plataforma SOS Passeio do Prado. Referindo-se a Siza Vieira, a vice-presidente vitalícia da Fundação Thyssen acrescentou: "Que esse senhor perceba o que está a fazer à nossa Madrid". Ontem, sábado, não foi possível obter um comentário do atelier de Siza Vieira, no Porto.
No ano passado, quando o projecto - cujo objectivo é reduzir o tráfego automóvel e ganhar espaço para o passeio público - foi conhecido, a baronesa liderou outras manifestações de protesto e conseguiu fazer recuar o alcaide de Madrid, Alberto Ruiz-Gallardón. O alcaide prometeu então que apresentaria um novo projecto e que abriria um período de debate público de seis meses. A baronesa Thyssen, figura do jet-set espanhol, e os ecologistas da Plataforma acusam agora Ruiz-Gallardón de não ter cumprido a sua promessa.
Segundo José Galante, porta-voz da Plataforma SOS Passeio do Prado, o que o alcaide pretende é deixar passar as eleições e logo em seguida iniciar a obra. "Mas", disse ontem, "não vamos permitir que toque numa única árvore do Passeio, porque não queremos que corte a história de Madrid" (a questão do número de árvores afectadas pelo projecto é também polémica, com os técnicos de urbanismo da autarquia a garantir que não seriam mais do que 29).
Mas, numa entrevista publicada ontem no El País, a baronesa dizia que "a culpa já não é de Alberto Ruiz-Gallardón", e declarava-se convencida de que "o alcaide está num sério aperto por causa do arquitecto que assina o projecto". "Refere-se a Álvaro Siza?", pergunta o jornalista. "Sim. Não gosto de insultar ninguém, mas esse senhor é muito teimoso". Explica depois que conheceu pessoalmente Siza há uns anos quando o convidou a ir ao museu. "Já então me disse que não pensava mudar de ideias, e eu disse-lhe que veríamos quem pode mais." E termina dizendo: "O senhor Siza não entende Madrid, não entende que uma sombra de árvore nesta cidade é ouro."
Numa entrevista ao mesmo jornal, há exactamente um ano, quando a polémica rebentou, Siza Vieira declarava-se "disposto a dialogar mas não a mudar o conceito" do projecto, e acrescentava que "se houver uma decisão política de o mudar, então deverá reabrir-se o concurso". Pela sua parte, admitia apenas "alterações pontuais".
O El País dizia ontem que oficialmente o novo projecto continua a ser uma incógnita, embora, segundo o arquitecto Juan Miguel Hernández de León, outro dos seus autores, exista desde há um mês um plano definitivo.

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