Carmona Rodrigues afronta Marques Mendes e recusa ir-se embora

Presidente da câmara diz que houve sectores do PSD que não o apoiaram e que assistiram com "insuportável silêncio" aos ataques e às mentiras de que foi alvo

a"Não serei eu o primeiro a abandonar o barco, nem permitirei que me atirem borda fora." Foi desta forma que o presidente da Câmara de Lisboa, o independente Carmona Rodrigues, anunciou ontem que se recusa a renunciar ao mandato, como lhe foi pedido pelo líder do PSD, Marques Mendes.A decisão dificulta a realização de eleições intercalares, exigida neste momento por todos os partidos, mas não as impede. Tudo depende de haver um número suficiente de vereadores a renunciar aos seus mandatos, de modo a provocar uma falta de quorum, da qual resultará a queda da câmara.
Nos últimos dias, contaram-se espingardas na Câmara de Lisboa, nomeadamente entre os eleitos pelas listas sociais-democratas, para tentar perceber se haveria um número suficiente de vereadores a recusar-se a ir-se embora, impedindo assim a ida às urnas. "Se a maioria dos verea-dores não quiser ficar, aceito e nada mais poderei fazer", disse Carmona Rodrigues no seu discurso.
Marques Mendes afirmou que retirará a confiança política a todos os sociais-democratas que fiquem, mas nas listas existem alguns independentes, como Carmona Rodrigues, que não estão sujeitos à disciplina partidária. O cenário mais provável passa agora pela queda da autarquia através da demissão dos vereadores do PSD e de alguns vereadores da oposição - suplentes incluídos -, de modo a que fiquem em funções menos de nove autarcas.
No discurso em que assumiu que queria ficar na Câmara de Lisboa Carmona atacou o PSD, partido pelo qual foi eleito: "Não senti, em muitas ocasiões, o apoio de vários sectores do PSD, que, com passividade, assistiram a muitos dos ataques de que fui alvo, contribuindo com esse insuportável silêncio para a transformação de mentiras em verdades". Ao mesmo tempo, queixou-se da "extrema animosidade e violência" de que diz ter sido alvo. Por parte de quem? "Tenho tido uma oposição liderada muitas vezes por comportamentos persecutórios, mentirosos, deturpadores e irresponsáveis, personificados por algumas pessoas e instituições", referiu. Para o autarca, o sistema político-partidário português "não está preparado para que independentes abracem a vida política e tenta, de todas as formas, expelir os corpos estranhos".
"Quiseram manchar a minha cara. Sinto-me ferido na minha honra. Antes de ser acusado, já sofro as consequências de actos que não cometi", disse ainda, desvalorizando os casos em que a Câmara de Lisboa se viu envolvida e frisando que muitos deles tiveram início em mandatos anteriores. Carmona Rodrigues contou que tentou convencer os seus dois vereadores mais próximos a não suspenderem funções, apesar de terem sido constituídos arguidos.
Contrariando uma vez mais o PSD, o autarca defendeu que, a haver eleições, elas devem abranger não só a câmara como a assembleia municipal.
Interrogatório de seis horas
Carmona Rodrigues foi também ontem interrogado como arguido, durante cerca de seis horas, por magistrados da equipa da secção de combate à criminalidade económica do Departamento de Investigação e de Acção Penal, por causa dos negócios da autarquia com a empresa Bragaparques. A diligência visou esclarecer situações que induziram o Ministério Público a notificar o autarca para ser questionado sobre casos que poderão sustentar suspeitas de envolvimento na prática de dois crimes: participação económica em negócio e prevaricação.
No caso da prevaricação, trata-
-se de um crime punível com dois a oito anos de prisão, cometido por quem "conscientemente conduzir ou decidir contra direito um processo em que intervenha no exercício das suas funções, com a intenção de, por essa forma, prejudicar ou beneficiar alguém". Menos gravosa é a moldura penal prevista para a participação económica em negócio, punível com prisão até cinco anos. Comete este crime o titular de cargo político que, "com intenção de obter para si ou para terceiro participação económica ilícita, lesar em negócio jurídico os interesses patrimoniais que, no todo ou em parte, lhe cumpra, em razão das suas funções, administrar, fiscalizar, defender ou realizar".
"Tenho tido uma oposição liderada muitas vezes por comportamentos persecutórios, mentirosos, deturpadores e irresponsáveis"
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