A nova moura encantada

Com Floripes, Miguel Gonçalves Mendes criou uma obra frágil, mas inteligente e sedutora

a Floripes, reza a lenda, era uma moura encantada que seduzia os pescadores de Olhão para a tentarem quebrar o seu feitiço, exigindo-lhes um verdadeiro trabalho de Hércules que praticamente nenhum consegue realizar. Para uns, essa lenda é uma grande aldrabice, para outros há algo de real, para outros ainda são histórias que se perderam nas raízes do tempo. Depois do seu premiado documentário sobre Mário Cesariny, Autografia, o realizador Miguel Gonçalves Mendes debruça-se sobre a lenda olhanense da moura encantada para falar das crenças e das superstições do povo, na segunda das quatro longas portuguesas apresentadas fora de concurso no Indie 2007. Encomendado por Faro Capital Nacional da Cultura 2005, Floripes começou por estrear-se no Fantasporto 2007 e chega agora à secção Observatório do Indie como uma obra frágil mas inteligente e sedutora. É um híbrido intrigante entre o documentário e a ficção, intercalando um delicioso trabalho de "memória oral" recolhida junto da população de Olhão com uma encenação de uma versão standard da lenda, onde um pescador inicialmente céptico descobre que Floripes não é apenas imaginação do povo. É o documentário que inspira a ficção ou a ficção que inspira o documentário? É um bocado a história do ovo e da galinha e não vem muito ao caso. O que interessa verdadeiramente em Floripes é o lado lúdico e despretensioso, assumidamente caseiro, com que Miguel Gonçalves Mendes pega no seu tema e dele faz um ensaio acessível e estimulante sobre a ficção. É lenda ou não? Como alguém diz a certa altura, se calhar era mais bonito se fosse verdade.
Floripes
De Miguel Gonçalves Mendes (Portugal, 2007, 1h30). Forum Lisboa, av. de Roma, 14-L, hoje às 22h15; repete 6ª feira (27) às 21h15 no cinema Londres, av. de Roma, 7, sala 2. Bilhetes a ?3,00 e ?3,50.

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