Torne-se perito

Uma década de grandes êxitos

Não sou o único, Maravilhoso coração, Sou como um rio ou Ficarei são alguns dos temas que ocuparam o primeiro lugar dos tops nos anos 90. A colectânea Picos de Audiência é-lhes dedicada. Hoje, com o PÚBLICO

a A fechar este regresso aos anos 90, Picos de Audiência é um disco de megassucessos. Uns podem ser considerados gritos de tolerância ou hinos de mobilização em torno de uma causa. Outros são meros êxitos light que conquistaram multidões de adolescentes ou amantes de música romântica. Em comum têm o facto de fazerem parte da melhor década da indústria discográfica.Dez anos após a revolução de Ar de Rock, Rui Veloso apresentou o conceptual Mingos e os Samurais (1990). Tendo como primeiro single Não há estrelas no céu, o duplo álbum tornou-se rapidamente num êxito comercial que acabaria por alcançar a impressionante marca de sete discos de platina.
Veloso levou-o em digressão por Portugal até ao fim do Verão de 1991, interpretando ao vivo temas que assumiram o estatuto de clássicos, como A paixão (Segundo Nicolau da Viola) e O prometido é devido, agora reeditado.
Em 1991, saiu para a rua o disco de estreia dos Resistência. No duplo "platinado" Palavras ao Vento renasceram, em versão acústica, canções como Nasce selvagem, dos Delfins, ou Não sou o único, dos Xutos & Pontapés. Também Marco Paulo obteve grande êxito nesse ano com o controverso single Taras e Manias. O tema integrava a compilação Maravilhoso Coração, da qual também foi retirada a canção homónima, menos polémica, mas de igual sucesso.
Outro hit radiofónico do início da década foi Sangue oculto, um dueto dos GNR com o cantor espanhol Javier Andreu, dos La Frontera. O tema antecedeu o lançamento do álbum Rock in Rio Douro, que, por sua vez, contou com uma gigantesca operação promocional da Emi-Valentim de Carvalho. Estávamos em 1992 e, meses depois, os GNR tornavam-se no primeiro grupo português a actuar num estádio em nome próprio, ao pisarem o relvado do Estádio José Alvalade, em Lisboa.
Seguiram-se os megassucessos Sou como um rio, dos Delfins, e Não voltarei a ser fiel, dos Santos & Pecadores. Ambas as bandas de Cascais editaram trabalhos discográficos em 1995, mas enquanto os Delfins de Miguel Ângelo e Fernando Cunha tinham material suficiente para um best of - O Caminho da Felicidade reuniu 14 êxitos gravados entre 1987 e 1994 e dois inéditos -, os Santos ainda estavam a dar os primeiros passos, com o disco de estreia Onde Estás?
1996 foi o ano de mais um supergrupo, os Rio Grande. O seu primeiro trabalho, homónimo, atingiu rapidamente vendas superiores a 40 mil exemplares, tornando-se disco de platina. No seu alinhamento, incluía 10 canções criadas pela dupla João Gil e João Monge, interpretadas pela voz de Vitorino, Jorge Palma, Tim ou Rui Veloso. Senta-te aí, por exemplo, é cantada por Palma.
Os últimos anos da década foram marcados pelo fanatismo adolescente em torno da boys band Excesso, que tiveram no tema Eu sou aquele o seu maior êxito, ou da dupla Anjos, que cantava e encantava com Ficarei.
Mas, em 1997, Dei-te quase tudo, de Paulo Gonzo, foi a grande protagonista, ao tornar-se na canção portuguesa mais tocada na rádio.
Entretanto, no limiar do novo milénio, Portugal unia-se em torno de uma causa e, inevitavelmente, as canções voltavam a ser arma de combate. De mãos dadas, o cordão humano que percorria o país juntava a sua voz aos Trovante: "Ai Timor/ se outros calam/ cantemos nós."

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