Como um grupo de tories derrubou Neville Chamberlain

a Ele era um líder dominador do Governo, com a absoluta convicção da moralidade e rectidão das políticas que empreendia, particularmente no que respeitava aos assuntos internacionais. Reunia em volta dele uma corte de determinadíssimos conselheiros conservadores que partilhavam em pleno as mesmas ideias e eram tão pouco tolerantes quanto ele. Desprezava todos quantos o criticavam no Parlamento, considerando-os ridículos, ignorantes e destituídos de patriotismo. Não perdia tempo com gente de outros partidos e tratava a oposição com total desrespeito. Ameaçava e coagia os media e autorizou escutas telefónicas a uma escala sem precedentes.Desta forma arrogante e intimidante, queria deixar uma marca mais relevante na vida pública do que o pai ou o irmão. Mas o resultado foi uma sucessão de desastres de política externa que, aos olhos do mundo, provocou danos incalculáveis ao país.
George W. Bush? Não. Neville Chamberlain. Como Lynne Olson, antiga correspondente do Baltimore Sun na Casa Branca, aponta neste vívido e irresistível livro, estas eram justamente as críticas dirigidas ao primeiro-
-ministro britânico enquanto ele persistia em manter uma política de concessões a Adolf Hitler.
Pelos finais da década de 1930, Chamberlain estava confiante de que estava a tomar a opção certa, mas a estratégia desmoronou em ruínas quando ficou claro que o Führer não podia ser saciado e que uma segunda guerra mundial com a Alemanha não era evitável.
Troublesome Young Men descreve e celebra os esforços dos opositores de Chamberlain dentro do Partido Conservador. Estes rebeldes tories foram finalmente bem sucedidos em derrubar o primeiro-ministro depois de um famoso debate na Câmara dos Comuns no início de Maio de 1940, no qual Leo Amery terminou um poderoso discurso citando as terríveis palavras que Oliver Cromwell usara para dissolver o Parlamento 300 anos antes: "Sentam-se aqui há tempo de mais para nenhum bem que fizeram! Partam, digo-lhes, e deixem-nos livres de vós. Em nome de Deus, partam!"
Chamberlain demitiu-se relutantemente e Winston S. Churchill sucedeu-lhe, convicto que o destino o tinha preparado para o que seria a sua melhor hora. Apesar de tudo isto parecer inevitável em retrospectiva, nada se mostrava predestinado.
Um problema (que Lynne Olson não aborda) consiste em que os opositores da táctica de apaziguamento de Hitler não tinham qualquer alternativa eficaz. Na década de 1930, os compromissos do império e do Exército britânico eram muito extensos, especialmente na Europa e na Ásia. E isso significava travar uma guerra de pesadelo em dois continentes, pelo que a estratégia de concessões parecia ser a única opção.
A segunda dificuldade (que Olson reconhece com relutância) assenta em os rebeldes tory formarem um grupo ecléctico: Churchill era visto como um reaccionário impopular que gostava de mais de beber, Anthony Eden não passava de um peso-pluma, e Amery era aborrecido. Os correligionários mais jovens igual: Robert Boothby era dado a envolvimentos sexuais ilícitos, Harold Macmillan traído pela mulher, Alfred Duff Cooper bebia e Harold Nicolson não era suficientemente combativo.
Mas, no final, a razão prevaleceu do lado dos rebeldes e, por isso, triunfaram. Muitos (se bem que não todos) foram recompensados por Churchill com cargos de menor importância na grande coligação de tempos de guerra; e dois deles - Eden e Macmillan - chegaram a primeiro-ministro.
No caso de Macmillan, tal foi um pouco surpreendente, mas já Eden há muito que era visto como herdeiro de Churchill. O mandato que exerceu revelou-se um desastre: convencido que o Presidente egípcio Gamal Abdel Nasser era um novo Hitler, lançou uma ofensiva militar em 1956 para retomar o Canal do Suez. O mundo reagiu com ultraje; Eden adoeceu e foi obrigado a demitir-se.
"As lições de Munique e da estratégia de apaziguamento foram erradamente aplicadas a uma outra crise internacional", nota correctamente Lynne Olson. O Presidente Bush e os amigos neoconservadores de que se rodeia muito ganhariam em notar isso também.
Professor de História da Grã-
-Bretanha na Universidade de Londres e autor dos livro
In Churchill"s Shadow e Mellon: An American Life

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