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O melhor da Música Portuguesa

Celebrar a música nacional, os seus grandes intérpretes e as suas grandes canções é o objectivo da colecção que o PÚBLICO, em parceria com a Emi e a Valentim de Carvalho, edita durante dez semanas, com distribuição à sexta-feira, sábado e domingo. É uma jornada musical que vai dos anos 50 à actualidade, percorrendo os géneros mais distintos. Hoje com o PÚBLICO, CD3 do volume 2, por mais 3,90 euros

a "Quando o avião aqui chegou/ Quando o mês de Maio começou/ Eu olhei p"ra ti/ E então eu entendi/ Foi um sonho mau que já passou/ Foi um mau bocado que acabou." São estas as palavras, escritas e interpretadas por José Mário Branco, que abrem o alinhamento da colectânea Eu Vim de Longe (A Música Popular Portuguesa), editada hoje com o PÚBLICO. Através dos seus dez temas, é possível revisitar a música popular portuguesa (MPP) da década de 80, marcada pela árdua caminhada dos anos 70, de transição entre a ditadura e a democracia, mas também pelo espírito criativo dos "seus monstros sagrados" (nas palavras de David Ferreira, responsável pela selecção) e pela vitalidade de novos talentos.Apesar de não virem de tão longe como Vitorino, José Mário Branco ou Sérgio Godinho, os Trovante chegaram aos anos 80 com dois álbuns na bagagem. E começaram a nova década com uma digressão por Portugal, curiosamente em conjunto com Vitorino, e um novo contrato discográfico com a EMI-Valentim de Carvalho. O seu primeiro trabalho para esta editora foi lançado em 1981, com o título Baile no Bosque, e obteve um sucesso imprevisto. Dele fazia parte o tema Balada das Sete Saias que se tornou num grande hit radiofónico.
Nesse mesmo ano, Sérgio Godinho regressou aos discos com Canto da Boca, o seu primeiro trabalho de originais para a editora Polygram. E, de repente, converteu-se num êxito comercial, apesar de se viver em simultâneo o boom do rock português: o álbum vendeu mais de 15 mil exemplares, recebendo por isso o Disco de Prata, e foi distinguido pela Casa da Imprensa como Melhor Disco Português do Ano. Entre as suas canções-chave encontrava-se Espalhem a Notícia.
Em 1982, José Mário Branco conseguiu finalmente editar Ser Solidário, trabalho onde descobrimos pela primeira vez Eu Vim de Longe, Eu Vou p"ra Longe. Desde 1979, este projecto foi sistematicamente rejeitado pelas editoras mas, em Novembro de 1980, o cantor e compositor conseguiu levá-lo a cena, no Teatro Aberto, em Lisboa, obtendo um enorme sucesso, sempre com sessões esgotadas. Perante este êxito, a editora independente Edisom aceitou lançar o disco e o resultado foi um álbum autobiográfico e muito pessoal de José Mário Branco.
Entretanto, após um retiro de três anos, Vitorino lançou em 1983 Flor de la Mar que, além de combinar temas originais com canções tradicionais, explorava a canção popular lisboeta. Foi graças a esse percurso que, no ano seguinte, o músico chegou ao disco Leitaria Garrett, acompanhado e arranjado em parte pelo Opus Ensemble. Aí, Vitorino deu uma nova vida às quadras populares de Menina Estás à Janela, tema cuja primeira versão era de 1975.
1984 foi o ano em que Jorge Palma deu voz à poética Estrela do Mar. "Sou a estrela do mar/ só a ele obedeço, só ele me conhece/ só ele sabe quem sou no princípio e no fim" é parte do refrão da terceira e, provavelmente, única faixa de Asas e Penas que o tempo não apagou.
A 1985, o terceiro CD de Os Anos 80 foi buscar Larghetto dos Prazeres, de Pedro Caldeira Cabral, tema retirado do seu álbum homónimo, editado pela EMI-Valentim de Carvalho. Considerado o músico português de maior projecção na música antiga e medieval, Caldeira Cabral era na altura conhecido pelo grande público graças ao concurso televisivo Vamos Caçar Mentiras, onde era director musical.
Os anos que se seguiram serviram de período de gestação para novos talentos. Em 1987, os quase desconhecidos Madredeus gravaram um álbum duplo ao vivo no Teatro Ibérico, intitulado Os Dias da Madredeus, e A Vaca do Fogo foi uma das 16 canções escolhidas para integrar o alinhamento final. Por sua vez, Mafalda Veiga iniciou o registo do seu álbum de estreia, produzido por Manuel Faria, dos Trovante. O resultado foi Pássaros do Sul, um trabalho com dez temas originais, compostos pela cantora, entre os quais Restolho.
Porém, 87 foi também um ano de retornos. Em Abril, António Pinho Vargas começou a apresentar ao vivo As Folhas Novas Mudam de Cor, álbum que veria a luz do dia no mês seguinte e incluiria a canção Vilas Morenas. Meses depois, em Setembro, os Sétima Legião lançaram o sucessor de A Um Deus Desconhecido que, em 1984, tinha sido aclamado pela crítica.
O novo trabalho chamou-se Mar d"Outubro e foi um grande sucesso comercial, graças a um importante contributo do single Sete Mares.

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