Picasso para ver (e comprar) em Lisboa

a Em 1965 Picasso soube que Albrecht Dürer fora, até à data, o artista que compusera a mais longa série de gravuras - perto de 200 - e decidiu ultrapassá-lo. Foi assim que entre Março e Outubro de 1968 executou a sua conhecida Suite 347, série de imagens de pendor erótico, misto de diário e explosão onírica, com uma edição de 50 exemplares. Há um ano 176 destas 347 águas-fortes foram leiloadas pela Christie"s por 900 mil euros. A que atingiu o valor mais alto - Picasso, son oeuvre, et son public - foi vendida a um privado por 85 mil euros. Os oito exemplares da exposição Pablo Picasso, a inaugurar hoje no Centro Português de Serigrafia, em Lisboa, chegam a Portugal com valores muito inferiores, entre os 8 mil e os 27 mil euros. Segundo João Prattes, director do centro, os valores correspondem à cotação internacional deste tipo de obra do pintor mais vendido do mundo.
Explicando que o objectivo é, sobretudo, "valorizar o universo criativo da obra gráfica" à volta da qual "há um certo tabu em Portugal", Prates sublinha: "Não estamos a fazer especulação. Tentámos o melhor preço para os nossos associados."
Quando realizou esta série, Picasso estava a cinco anos do fim da vida e morava em Mouguin, trabalhando já com os irmãos gravadores Aldo e Piero Crommelynck. Para o pintor é um momento particularmente prolífico e a Suite 347, diz Jordi Vilafranca, que organizou a exposição, corresponde à "etapa mais consistente" da sua obra, com "todos os seus heróis e heroínas". Numa das obras mais caras - Comédiens ambulants avec autoportrait au chapeau d"arlequin et combat de coqs (26 mil euros) - vê-se Picasso vestido de arlequim com Georges Pompidou. Numa das mais baratas - Raphaël et la Fornarina, XXIV avec voyeur au chapeau à deux cornes et deux pigeons (10 mil euros) - retratam-se os jogos de amor entre o pintor renascentista e a sua modelo.
Com cerca de 2000 gravuras, para Picasso, "as artes gráficas eram um estilo em si mesmo", sublinha Vilafranca, que conseguiu a exposição a partir do espólio de duas galerias, em Barcelona e Nova Iorque. "A realização de 347 é de uma magnitude extraordinária. Ele fazia duas e três placas diárias. Um trabalho imenso porque as placas fazem-se com um buril em zinco. É preciso uma capacidade física que não se imagina numa pessoa de 80 anos."
Para além de Suite 347, a exposição do Centro Português de Serigrafia é ainda composta por uma selecção de sete trabalhos da Suite Lysistrata, uma série de 1934 com edição de 150 exemplares em que Picasso ilustra alguns momentos da estratégia usada por Lisístrata para acabar com a guerra entra Atenas e Esparta (convence as mulheres dos soldados a não terem sexo com os maridos). As imagens, que o centro gostaria de ver vendidas em conjunto (120 mil euros) foram realizadas pelo artista a convite de um editor norte-americano.

Pablo PicassoLISBOA Centro de Serigrafia,
R. dos Industriais. Tel.: 213933260. Ianuguração hoje às 19h. De 2ª a 6ª das 9h30 às 19h30. Sáb. das 10h às 13h e das 14h às 19h. Até 28 de Abril.

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