Falta de rumo da UNITA é o maior exemplo da sua democratização

Mesmo sem estratégia de oposição, o movimento de Savimbi deu "salto impressionante" na sua conversão

a Parte derrotada de uma guerra civil de 27 anos, a UNITA é hoje um partido enfraquecido e dividido, sem os milhões dos donativos que recebia de países amigos como os EUA ou da venda de diamantes explorados livremente em território controlado pelo movimento; sem rumo político ou estratégia de oposição e sem certeza de querer manter-se no governo de unidade nacional, no qual participa, mas que ao mesmo tempo critica.Cinco anos depois da morte do seu fundador, Jonas Savimbi, a 22 de Fevereiro de 2002, a UNITA é ao mesmo tempo louvada pelo exemplo que dá de "abertura" e "democratização" e uma prova de que em Angola nem todos os líderes são intocáveis: em 2003 pela primeira vez na história do movimento, o presidente da UNITA que sucedeu a Jonas Savimbi, Isaías Samakuva, foi eleito em congresso face a dois outros candidatos, um dos quais Paulo Lukamba Gato, até então secretário-geral. Samakuva prepara-se no congresso de Junho para disputar a liderança com uma outra figura maior do partido, Abel Chivukuvuku.
"É um salto impressionante, tendo em conta o seu passado" e a prova de "capacidade de conversão" de movimento armado para partido político, considera o jornalista Rafael Marques. As divisões, acrescenta, podem ser o prelúdio de uma maior "coesão".
Depois da morte dos líderes - com Jonas Savimbi foi também morto o seu vice-presidente António Dembo - e de dirigentes e militantes nas violências de Luanda após as eleições em 1992, as pessoas da UNITA vivem condicionadas pelo medo. Ou pela incapacidade. Ou movidas apenas pela ambição política como forma de sobrevivência.
A UNITA pode ser tudo ou nada disto. Os seus deputados na Assembleia vivem com os mesmos bons ordenados, as regalias e os subsídios, que tem qualquer deputado do MPLA. E fazem parte de um Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, desacreditado, formado com base nos resultados das únicas eleições de 1992. Esses resultados também determinam que, com 70 deputados na Assembleia, a UNITA recebe um milhão de dólares mensais do Orçamento do Estado.
Sem hipótese de vencer?
É ao mesmo tempo um partido sem hipótese de ganhar eleições "nos próximos cinco a dez anos", diz Adriano dos Santos que, como militante do MPLA, foi herói da libertação nacional e ministro na década de 1980. Na UNITA impõe-se que faça uma "oposição séria" e do MPLA que avance para uma "inevitável abertura" e a substituição de José Eduardo dos Santos na liderança, defende Adriano dos Santos.
Em Junho, a liderança de Samakuva será abertamente contestada como nunca aconteceu com a do Presidente da República e líder do MPLA. No cargo e na chefia do Estado desde 1979, Eduardo dos Santos mantém o suspense quanto a uma eventual candidatura às presidenciais, sem que se vislumbre o nome de um forte sucessor à frente do partido.
O homem hoje mais poderoso de Angola, depois de Eduardo dos Santos, é o chefe da Casa Civil da Presidência, general Kopelipa - é ele quem gere o fundo de milhões desembolsados pela China para a reconstrução do país.
Os sinais já visíveis na reabilitação de estradas, caminhos-de-ferro, escolas e hospitais, graças a essas ajudas e créditos, ajudarão a campanha do MPLA nas eleições. Já foram anunciadas legislativas para 2008 e presidenciais para 2009.

Sugerir correcção